Um país em turbulência

OPINIÃO - Walter Roque Gonçalves

Data 03/08/2025
Horário 05:00

A recente aplicação da Lei Magnitsky Global ao ministro Alexandre de Moraes colocou o Brasil no centro de uma discussão delicada, que mistura política, justiça e economia. A sanção imposta pelos Estados Unidos o insere em uma lista de líderes e autoridades mundiais acusados de abusos de direitos humanos, corrupção e ligação com práticas antidemocráticas – grupo que já inclui nomes como Nicolás Maduro, entre outros chefes de Estado.
Para boa parte dos brasileiros, a notícia não surpreende. Donald Trump havia feito ameaças explícitas nesse sentido e, para muitos, a decisão representa apenas a confirmação de algo que parecia inevitável. No campo ideológico, a punição foi comemorada por apoiadores das pessoas presas em 8 de janeiro de 2023, que até hoje questionam a condução dos processos. Há relatos de audiências de custódia que extrapolaram o limite legal de 24 horas, transformando prisões em ilegais, mães de família que não tiveram medidas alternativas e o caso do empresário Cleriston Pereira, que morreu sem ter obtido prisão domiciliar mesmo após pedidos médicos.
Esses excessos, segundo os críticos, foram decisivos para a inclusão do ministro brasileiro na lista. Não são poucos os que, em tom de revanche, reagem com a sensação de “alma lavada” e o discurso de que “finalmente ele teve o que merecia”. No entanto, esse sentimento, ainda que compreensível para quem se sente injustiçado, não é o mais saudável para o país.
A interferência americana, ainda que sob justificativa legal, gera um efeito colateral grave: instabilidade. Ao trazer o nome de um ministro da Suprema Corte brasileira para o rol da Lei Magnitsky, Trump adiciona combustível a uma fogueira política interna que já arde forte. Questões comerciais, que deveriam estar no centro das negociações entre países, acabam contaminadas por disputas ideológicas. A recente citação ao ex-presidente Bolsonaro em negociações reforça esse embaralhamento de assuntos que, em tese, deveriam ser separados.
O resultado prático é previsível: dólar em alta, retração de investimentos, inflação, desemprego e mais dificuldades para empresas de todos os portes. Quem paga a conta são justamente aqueles que não têm qualquer participação direta nesse jogo: o cidadão comum que acorda cedo, trabalha, paga seus impostos e tenta prosperar apesar das turbulências.
Independentemente de concordar ou não com a sanção imposta a Alexandre de Moraes, é preciso reconhecer que a internacionalização desse conflito não fortalece o Brasil. Pelo contrário: expõe nossas fragilidades, nos coloca em posição de vulnerabilidade externa e alimenta um ciclo de insegurança que atinge a economia real. O preço dessa instabilidade vai muito além de disputas políticas – recai sobre milhões de brasileiros que nada têm a ver com a guerra de narrativas.

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