UM PIANO NOS GRITOS DE GOL DO TRI DO BRASIL

OPINIÃO - Charanga Domingueira

Data 14/08/2017
Horário 12:03

Futebol já teve muitos nomes. Francisco Sarno, lateral do Palmeiras, escreveu um livro e deu-lhe o título de “Futebol, a dança do diabo”. Outros mais. Para o sociólogo Hilário Franco Junior ele é “A dança dos deuses” e para o multicultural José Miguel Wisniki é o “Veneno Remédio”. São obras de grande importância e onde sempre estão presentes os milhões, grana mesmo, que rondam o mais popular dos esportes. Assim mesmo as estatísticas provam que são poucos os jogadores que enriquecem no futebol. A grande maioria vive do salário mínimo num dos maiores contrastes deste mundo de desigualdades imensuráveis. As cifras que envolvem as transferências de Neymar, notadamente esta última do Barcelona para o PSG (París Saint-Germain) são simplesmente fantásticas. Na atualidade contam que também os locutores esportivos estão numa galeria de privilegiados em matéria de faturamento. No passado não era nada disso. Quando ingressei na Bandeirantes, janeiro de 1958, somente Edson Leite possuía automóvel. Mas, era diretor comercial da emissora e não apenas locutor esportivo. Nem Pedro Luiz tinha carro próprio. Conto uma estória que bem reflete a comparação. Meu primogênito, Flavinho, demonstrava pendores para estudar piano. Comprar um é que eram elas amarelas. Na Copa do Mundo de 1970 fiquei 60 dias no México e, como recebíamos um extra para despesas eventuais, me veio a ideia de economizar e... quem sabe, comprar um piano. Deu certo! Ajudei a narrar as peripécias do tri, as geniais maravilhas que Pelé e seus companheiros prodigalizaram em terras astecas e voltei ainda ao Brasil com dinheiro suficiente para comprar o instrumento. Um simpático Fritz Dobbert, ainda vivo e que acabou servindo ao meu terceiro filho, o Helder, concertista, pianista de categoria e que tem mestrado e doutorado pela USP (Universidade de São Paulo), sempre ligado aos irmãos José Eduardo e João Carlos Martins, dois dos mais renomados nomes entre aqueles que “mexem” nas teclas de pianos no planeta. Conto a passagem, pois ela mostra que também entre os que praticam o futebol, como profissionais lá dentro do campo e os que espalham seus feitos pelo país e pelo mundo, as diferenças financeiras são flagrantes. Pode ser que hoje em dia locutor esportivo esteja ganhando bem. Não como um Neymar, Cristiano Ronaldo ou Messi. Quanto ganharia hoje o Pelé? Tenho certeza, porém, que a maioria dos meus colegas, com as exceções de praxe, se quiser comprar um piano para o filho ainda terá que economizar nas diárias. Narrar a conquista de um tri mundial já será algo mais raro para qualquer um.

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