Um salto para a eternidade

Persio Isaac

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 01/08/2021
Horário 06:07

Um menino alto e franzino, com 1,89 metro de altura, lavava carro e ajudava sua família como ajudante de pedreiro. Tinha 17 anos quando resolveu participar de um campeonato colegial de atletismo. Todos na sua idade alcançavam 1,50 m do salto em altura. O menino pobre, alto, sem camisa e franzino começou a saltar acima dessa marca. Sua elasticidade impressionava a todos. Foram aumentando a altura e esse menino alcançou a incrível marca pela sua idade de 1,80 m de altura. 
A sua insuficiência nutricional não foi adversária perto da sua grande vontade de vencer. Começava a nascer naquele momento um dos maiores atletas do atletismo mundial. Seu nome era João Carlos de Oliveira, que mais tarde ficou conhecido como João do Pulo, quando bateu o recorde mundial do salto triplo nos jogos Pan Americanos no México com a incrível marca de 17,89 m. 
Em 1980, chega nas Olimpíadas de Moscou como o grande favorito para ganhar a medalha de ouro no salto triplo. Iria enfrentar não somente a força da gravidade e nem os atletas soviéticos, Viktor Saneyev e Jaak Uudmäe, iria enfrentar também um projeto do regime soviético que tinha planos não esportivos, dar o tetra campeonato a Viktor Saneyev e mostrar ao mundo a vitória do regime comunista. 
Chega o dia da prova, João está confiante. Cada atleta tem o direito de dar seis saltos. João respira fundo, pensa na sua origem humilde, seus saltos o tiraram da miséria e seus sonhos estão sendo realizados. João do Pulo consegue dar dois saltos excelentes chegando a 18m, seria um novo recorde mundial do salto triplo. Quando estava comemorando, a bandeira branca dos juízes da prova é levantada, anulando os saltos de João do Pulo, alegaram que ele tinha pisado na linha. 
O esquema estava armado. João do Pulo fica com a medalha de bronze, mas Viktor Saneyev fica com a medalha de prata e o ouro vai para o compatriota Jaak Uudmäe. João do Pulo iria carregar essa injustiça que se transformou na sua grande tristeza, sendo sua fiel parceira até o fim dos seus dias. Como a vida nunca foi justa, João do Pulo sofre um terrível acidente de carro, sua perna de luz é amputada 10 cm abaixo do joelho, a escuridão envolveu seu coração.
Sua brilhante carreira estava encerrada, seu sonhos foram despedaçados pelo cruel destino.  O menino pobre, frágil, descalço e sem camisa aparece na sua lembrança e João conhece o esquecimento. Em 29 de maio de 1999, João do Pulo sai desse mundo levando sua tristeza vestida de solidão. A cirrose hepática ganha a medalha de ouro. O menino pobre, franzino, sem camisa dá seu último salto para a eternidade.
 

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