Uma reflexão sobre o ser psicólogo

A pandemia nos revela a necessidade de um lugar de escuta, até mesmo para aqueles que acreditavam que o ofício do ser psicólogo era exclusividade para loucos. No entanto, o que se constata é que o isolamento que impõe a desaceleração da temporalidade, também provoca a impossibilidade de incremento de um sofrimento que, em outro momento, se modulava nas atividades e nos discursos de garantia de uma “normalidade”.
O novo coronavírus vem nos apontar que a experiência crua e singular frente a esse momento, paradoxalmente, traz consigo, as construções subjetivas deflagradas por um sofrimento antes impensável: não poder visitar seus entes queridos em hospitais e não vivenciar o trabalho de luto por aqueles que partiram. Esses e outros desdobramentos continuam a exigir do humano novas leituras acerca de si, do outro e da vida.
Para além de acolher, amparar e desenvolver a ampliação da consciência, a psicologia que está à altura de seu tempo (que entende o humano inserido em um mundo diverso, mix e globalizado) é especialidade de que também questiona e contrapõe o enaltecimento do discurso que considera uma única via (especialidade) como lugar de tratamento do sofrimento humano.
Em tempos de pandemia, as frias estatísticas de morte ganham contornos humanos, quando chegam a nós. A psicologia tem consciência de que não há mágica para o real, não há cloroquina e ozônio, mas há um lugar ofertado por aqueles que, sobretudo, respeitam a sua humanidade e as infinitas formas de exercê-la.
A psicologia tem um lugar de extrema importância na sociedade, seja nas organizações, nas instituições privadas e públicas, nas escolas, no esporte, na clínica e, principalmente, nos hospitais. É comum observarmos nas pessoas um discurso de identificação da necessidade de ir ao psicólogo, seja de si ou do outro, dizendo “eu preciso de um psicólogo” ou “você precisa de um psicólogo”, entendemos que esse discurso é, sem dúvida, uma evolução humana.
Nesse sentido, o (a) psicólogo (a) passa ter um lugar imperativo, nunca antes registrado na história. Somos convocados e imersos na mesma situação paradoxal que nossos pacientes, a exercer nosso predicado de escuta qualificada que hoje completa 58 anos de sua regulamentação no Brasil. De(cifrar) aquele que ali desnuda sua alma no divã é tecer junto com ele a trama de sua singularidade, recobrando o seu significado e pertencimento no mundo . E isso não é pouca coisa! Nesse 27 de agosto, parabenizamos a todos profissionais da psicologia!
 

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