O ano terminou e inicia mais um movimento de translação ao redor do sol de 365 dias. Este 2020, com a pandemia que nos assolou, deixou-nos sofridos com fechamento do comércio, escolas etc., as consequentes frustrações e, pior, vidas perdidas. Difícil para nós, mas, para a juventude que nasceu há pouco numa democracia conquistada pelos seus pais e avós, deve ser ainda mais árduo digerir o mundo em que nos encontramos hoje.
Resta-nos a utopia. O que pode salvar senão algo imaginário do possível, de sonhar com um mundo melhor? Só com a utopia há transformação, porque ela constitui a seiva de mudanças desejáveis. E a nossa utopia é uma Prudente melhor, um Estado menos competitivo, uma nação mais segura e justa.
Nossos representantes políticos devem fazer a diferença, sim, mas nenhum cidadão pode se omitir. Os que têm posse suficiente devem participar com bens materiais, criar emprego etc. – ações essas constituem ato religioso nesta fase difícil. Há também o trabalho voluntário em que se pode ajudar com ações que não têm preço e que podem valer muito. Só o bem de todos conduz ao bem das partes: o que é melhor para a cidade é melhor para a economia, é melhor para os cidadãos, é melhor para a região.
Disse Darcy Ribeiro: “O Brasil, último país a acabar com a escravidão, tem uma perversidade intrínseca na sua herança, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade e de descaso”. Tenho especial admiração pelo sociólogo Darcy Ribeiro, mas não concordo com esse pensamento, porque a história é dinâmica, estamos em contínua transformação.
Tantas nações praticaram crueldade, erros abomináveis e, mais tarde, traduziram ao seu povo justiça social, como a França após a Revolução Francesa, em 1789, que libertou seu povo da férrea ditadura da monarquia; a Coreia do Sul, com educação de altíssima qualidade; países nórdicos como Finlândia, Suécia, entre outros. A utopia é um vir a ser plenamente realizável, sem ela estaríamos ainda em cavernas; mas com ela podemos ter um município melhor, Estado melhor, país melhor. O progresso material e espiritual não é senão realização de utopias.
