Vamos falar sobre perdão?

Estou lendo um livro de uma psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e também da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Curitiba, chamada Cleuza Mara Lourenço Perrini. Ela está lançando o livro neste ano de 2025. O livro é muito interessante e chama-se: “Função feminina e função masculina, relações intrapsíquicas e intersubjetivas”, pela editora Blucher. Ela é psicóloga e psicanalista didata nas duas sociedades. 
Como dia 1º de outubro é o Dia do Perdão, vamos falar do perdão? O livro trata de assuntos muito relevantes e oportunos em tempos conturbados e cheios de controvérsias, mas quero enfatizar sobre perdão, que julgo ser muito importante. Em tempos tão acelerados, ligados ao modo “copiloto”, vamos realizando milhões de coisas ao mesmo tempo, eu pergunto: como estão os seus afetos? Qual é sua busca? Qual sua dor? Você tem fome do que? O que somos além de nascer, viver, envelhecer e morrer? 
Depararmos com o outro é depararmos com nós mesmos, diz a autora. “É depararmos com nossa humanidade, com a nossa mortalidade e com a irreversibilidade da vida. Na humanidade existe o outro”. Como anda o sentimento de amor, por aí? Há pessoas que são invadidas pelo rancor, ira e ódio internamente. Não tem chance e não se dão o direito de elaborar ou reelaborar. 
Sapienza, outro psicanalista que faleceu recentemente, nos diz assim: A reelaboração através de uma releitura reconfortante e compreensiva dessa violência ameaçadora poderá permitir desarmes de intensa culpa persecutória e de compulsão a repetição, levando a refrescante revitalização. Hannah Arendt (2004) aponta que o único recurso contra a irreversibilidade - a impossibilidade de se desfazer o que se fez, embora não se soubesse nem se pudesse saber o que se fazia - é a faculdade de perdoar.
Com o perdão, reitera, acrescenta-se a possibilidade do desfazimento dos atos do passado, promovendo novos caminhos. Caso contrário, o agir ficaria, por assim dizer, limitado a um único ato do qual jamais nos recuperaríamos. “Perdoar, mais que um ato religioso, é um ato humano”. “Aceitamos nossa condição humana perdoando, e perdoar liberta tanto quem perdoa, como quem é perdoado. É um ato que precisa da existência do outro. E penso que, aqui, o outro pode ser a existência deste dentro da própria pessoa: Ninguém pode perdoar-se a si próprio; no perdão, como na ação e no discurso, dependemos dos outros, aos quais aparecemos numa forma distinta que nós mesmos somos incapazes de perceber” (Arendt,2004). A fé nos serve de apoio para nos aproximarmos de nós mesmos, e do outro, com tolerância e compaixão.
 

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