Venda de materiais da Cooperlix cai pela metade

Há 18 dias no barracão provisório, cooperados lidam com o uso exclusivo do trabalho manual, que impede uma produção maior

PRUDENTE - THIAGO MORELLO

Data 10/08/2018
Horário 04:00
Marcio Oliveira - Trabalho dos cooperados tem sido feito apenas de forma manual, sem maquinários
Marcio Oliveira - Trabalho dos cooperados tem sido feito apenas de forma manual, sem maquinários

Todos os dias, o morador do Conjunto Habitacional José Rota, em Presidente Prudente, Djalma Ferreira da Silva, 58 anos, acorda por volta das 5h, se prepara como qualquer trabalhador e atravessa a cidade em direção ao seu local de trabalho, a Cooperlix (Cooperativa dos Trabalhadores de Produtos Recicláveis de Presidente Prudente), que hoje está em um novo barracão, no Jardim Jabaquara. Para ele e alguns cooperados, o caminho até o local ficou mais exaustivo e demorado, o que traduz em um empenho maior. Quem dera se o produto final, que é a separação do lixo para comercialização, também tivesse aumentado. Mas há 18 dias no local atual, a cooperativa conseguiu vender aproximadamente 35 toneladas de materiais, que é metade do que eles estavam acostumados no antigo terreno, ou seja, 70 toneladas, nessa mesma quantidade de dias trabalhados.

Mas engana-se quem pensa que os cooperados têm trabalhado menos, já que produzem uma proporção menor. A carga horária até pode ser a mesma, mas o empenho não, pois no dia 14 julho deste ano, quando ocorreu o incêndio no antigo barracão da Cooperlix, o que sobrou foi a vontade de trabalhar, já que o maquinário foi todo queimado. “Então você vê, a gente realiza todo o procedimento de forma manual, aí a agilidade não é a mesma e o que conseguimos vender será numa quantidade menor, naturalmente”, explica a presidente da cooperativa, Maria Aparecida Assis Silva.

Hoje o cenário é o seguinte: entre as pilhas de materiais recicláveis que desenham os cantos do barracão estão os 90 cooperados. Por lá, eles realizam “a separação de cada tipo de material, um em cada bag [saco de plástico], que depois são levados diretamente para as caçambas, para que possam ser encaminhadas às empresas que faz o prensamento”, detalha Maria. Mas para isso, eles não possuem mais as esteiras à altura do corpo, que agilizam a separação. A opção é agachar, subir, se virar, buscar carrinho, subir na pilha, enfim, quase que uma maratona.

E se até mesmo um atleta profissional que compete uma maratona cansa no final, com eles não seria diferente. Djalma, mencionado no início da reportagem, não tem apenas o trabalho de atravessar a cidade todo dia, ele também, assim como seus colegas, se dedica diariamente a separar o máximo de material possível, mesmo com todo o desgaste físico. “Porque se não produz, não tem venda e aí não tem dinheiro”, afirma.

Aliás, o dinheiro que antes entrava não é o mesmo de hoje, o que pela lógica é esperado, já que vendem menos. Mas as famílias que estão por trás desses trabalhadores precisam da quantia, como a família de Djalma, que é casado e pai de cinco filhos. Em sua face, além da expressão de cansaço, fica nítida a tristeza do que já ocorreu, o que os cooperados enfrentam hoje e o futuro indecifrável. “Mas a gente não pode parar. Tristeza tem, mas temos que trabalhar”, expõe.

Aliás, em meio à dificuldade, “a gente sabe que o amigo de verdade é aquele que não deixa a lágrima cair, mas segura com você”. A frase não é de nenhum pensador filosófico ou contemporâneo, mas sim da presidente da cooperativa, que não deixa de citar a união que se formou entre os cooperados no pós-incêndio. “Pensei que muitos iam desistir depois do momento trágico. Mas pelo contrário, nos fortalecemos e estamos determinados a trabalhar mais. Tenho certeza que as coisas vão melhorar”, diz.

E podem melhorar sim, a partir do dia 20 deste mês, que é para quando está prevista a chegada de alguns maquinários. Eles ajudarão na prensa dos materiais. “A gente precisa contratar ou entregar para uma empresa que faça isso e aí elas encaminham para as indústrias que compram os materiais”, diz a presidente da cooperativa. Por outro lado, a coleta seletiva voltou ao normal e segue sem dificuldades.

Inquérito

O assunto voltou a ser comentado ontem, pois as investigações sobre as chamas que destruíram o barracão da Cooperlix - e deixaram um prejuízo de quase R$ 1,2 milhão - continuam, mas, segundo o delegado responsável pelo caso, Wagner Silva Negré, o laudo pericial não pode apurar as causas do incêndio. Sendo assim, foi solicitado um aumento no prazo para continuar com as diligências, que não possui data para se encerrar. Como noticiado por este diário, o inquérito policial tenta descobrir se o incêndio foi de origem criminosa ou não.

Auxílio

As dificuldades transcendem o déficit da comercialização para o ganha-pão diário, já que a renda acaba sendo menor. Mas, por outro lado, a secretária municipal de Assistência Social, Luzia Fabiana Sales Macedo, lembra que há um movimento do município para ajudar os cooperados. Além da construção e entrega futura do Centro de Triagem e Reciclagem, alguns trabalhadores recebem auxílio da Semea (Secretaria Municipal do Meio Ambienta), que já ocorria antes do incêndio.

Por parte da Assistência Social, a chefe da pasta destaca que a secretaria está realizando atualização cadastral dos cooperados, e mantém um contato direto com a cooperativa, em vista de atender as necessidades dos funcionários, como entrega de cesta básica, por exemplo, conforme a própria demanda deles.

NÚMEROS

35 t

de materiais foram vendidas no novo barracão

18

dias de operação da Cooperlix no novo local

R$ 1,2 mi

é o valor estimado do prejuízo pós-incêndio

90

cooperados trabalham na empresa

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