Bem no seu finzinho, agosto "aprontou" mais uma. Mais um fato triste sábado passado. O cronista Luis Fernando Veríssimo foi embora deste mundo. Tinha 88 anos. Morreu de pneumonia. Considerado um cronista genial, ele escreveu mais de 70 livros e vendeu pelo menos 6 milhões de exemplares.
Entre suas obras estão "O Analista de Bagé", "Ed Mort" e "A Velhinha de Taubaté. O analista virou peça de teatro e "Ed Mort" foi pro cinema, tendo o ator Paulo Betti no papel principal. Nos últimos anos da ditadura, a velhinha de Taubaté ainda acreditava no governo. Todo mundo exigindo Diretas Já e a idosa ia na contramão da história. Achava que estava tudo bem e, por isso, falava bem do "governo" de então.
Filho do escritor Érico Veríssimo, grande nome da literatura brasileira, Veríssimo morou com a família nos EUA, onde passou boa parte da infância e da juventude. Fã de jazz, ele aprendeu a tocar saxofone e seu grande ídolo era o saxofonista Charlie Parker, talvez o rei do bepop, um estilo de jazz sofisticado e cerebral surgido nos anos 40 do século passado.
Veríssimo viu Charlie Parker tocar e, provavelmente, foi o único brasileiro que assistiu a um show do celebrado músico, cujos solos eram geniais, segundo as palavras do cronista. Como músico, Veríssimo fez shows em várias cidades. Humilde e tímido, dizia que os verdadeiros músicos eram os outros integrantes da banda.
Lembro-me de um comentário dele sobre o livro "Ulisses" ("Ulysses” no original) do festejado escritor irlandês, James Joyce. Dizem que não é um livro fácil de entender. Penso cá com meus botões que o Veríssimo foi um dos 20 brasileiros, se tanto, que conseguiram ler o livro de cabo a rabo. Teve gente que parou no meio do caminho, quer dizer, no meio do livro.
Ele nunca escondeu sua simpatia pelo Lula. Num comentário bem-humorado, lembrou que há um Silva na Presidência, uma alusão a um sobrenome comum no Brasil e que está nos documentos dos mais pobres (alguém da elite tem o sobrenome Silva?).
Cronista, jornalista, tradutor, cartunista, músico e o que mais? Veríssimo fez tudo isso com elegância, coisa que falta no mundo atual, ironia, leveza e, principalmente, bom humor. Humor refinado, levado a sério.
Como Veríssimo tocava saxofone, lembrei-me do choro "Saxofone, Por Que Choras?", de autoria do Ratinho (Severino Rangel de Carvalho), que fazia dupla com o Jararaca. No momento, o sax chora por Veríssimo, um tesouro da cultura brasileira.
DROPS do Veríssimo
No Brasil, o fundo do poço é apenas uma etapa.
A corrupção é muito antiga no Brasil. As contas que o Cabral trocou com os índios já não fechavam.
Conhece-te a ti mesmo, mas não fique íntimo.
O que separa o homem dos bichos é que o homem sabe que é irracional.