Veterinário pede apoio para dar fim à eutanásia

Profissional aborda em palestra informações sobre tratamento, alcançado em ação judicial no MS, uma alternativa à morte

PRUDENTE - MELLINA DOMINATO

Data 26/10/2016
Horário 09:57


Em palestra promovida ontem, na 29ª Subseção da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Presidente Prudente, o médico veterinário André Luiz Soares da Fonseca abordou as características da leishmaniose, que acomete principalmente os cães, e tratou sobre os aspectos jurídicos no que diz respeito ao tratamento da doença, então proibido, além do possível fim da eutanásia. Em entrevista a O Imparcial, André adiantou que, na apresentação, explicaria aos presentes a possibilidade de buscar judicialmente meios de evitar a morte dos cachorros contaminados, o que hoje ocorre somente em Campo Grande (MS), por força de uma liminar alcançada na Justiça local. "A eutanásia é comprovadamente ineficaz para o controle da leishmaniose. Nosso foco é expandir para o Brasil a ideia de buscar o tratamento. Esse é único país do mundo que mata os cães contaminados", salienta.

Jornal O Imparcial André Fonseca explica que o tratamento possibilita a cura clínica, não a parasitológica

André, advogado, professor de Imunologia da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), mestre em Imunologia das Leishmanioses pela USP (Universidade de São Paulo) e sócio-fundador do Brasileish (Grupo de Estudos sobre Leishmaniose Animal), explica que o tratamento possibilita a cura clínica, não a parasitológica, esta última caracterizada como uma "ilusão científica". Frisa que a política de castração é fundamental para o controle da doença, já que esta é sexualmente transmissível. "Esta é uma doença de mamíferos, portanto, outros animais, além dos cães, sem contar os humanos, são contaminados. Porém, os cachorros se reproduzem mais e, portanto, apresentam maior índice de contaminação", revela.

O estudioso cita ainda que o controle do vetor é medida importante, pois a doença pode ser transmitida ao cão pela picada do mosquito-palha. "Hoje é assim: se você tem um cão doente, os responsáveis buscam e fazem a eutanásia, mas o mosquito continua nas proximidades da sua residência. Aí, se você vai e adota outro cachorro, muito provavelmente ele também vai ter a leishmaniose, pois o vetor permaneceu ali na sua residência", pontua.

 

Alternativa

O veterinário conta que atualmente acompanha 3 mil cães em tratamento em Campo Grande. Diz que tal possibilidade só foi possível depois de uma liminar. Esta determina que os donos dos animais contaminados sejam informados sobre a alternativa à eutanásia. "O resultado tem sido bom, com cura clínica comprovada em exames. A leishmaniose é infecciosa, mas não é contagiosa. Ela não passa do animal para o humano", comenta. "Queremos a ampliação dos efeitos desta liminar para o restante do país. Queremos informar os advogados, entre os demais presentes, sobre a ação e como entrar judicialmente com medidas semelhantes", adiciona.

Informa que, para janeiro do próximo ano, o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) disponibilizou um medicamento para tratamento da doença. Este tratamento, porém, não é reconhecido pelo CFMV (Conselho Federal de Medicina Veterinária) por ainda não ter sido regulamentado.

Em Campo Grande, segundo André, cerca de 35 mil dos 135 mil cachorros estão contaminados pela leishmaniose. "Isso significa que quase 25% dos cachorros estão contaminados. Não podemos persistir nesta forma de intervenção errada e matar todos. O cão na verdade funciona como um filtro biológico, pois ele pega a doença para o humano não pegar", observa.

 

 
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