Você consegue rir de si mesmo? 

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 14/03/2023
Horário 06:00

Pois é! A arte de rir de si mesmo. Você consegue ou não admite o fato de que é mais pateta do que imagina? E imagina menos ainda que ser um palhaço que se ama é bem melhor do que a solidão das noites depressivas.
Você se lembra do Pateta, personagem da Disney? 
Se perguntar ao seu filho ou filha, é bem provável que eles não o conheçam, mas gente da minha geração passou a infância rindo das presepadas do cachorro do Mickey, que por sinal também tinha um cachorro de estimação, o Pluto. Vai entender que tipo de personagem Walt Disney tentou criar com Pateta, mas isso por si só já era engraçado.
Enfim, o Pateta vivia fazendo tudo errado e mesmo assim, morria de rir de suas confusões. A risada dele era inconfundível: Iac, Iac, Iac. Caía, ria. Trombava, ria. Machucava, ria.  
Um palhaço eu diria, porque palhaços também amam rir de si. Afinal, é pelo fracasso que ele próprio faz outras pessoas rirem. Eles se coçam, se autoavaliam e se desprezam, identificam uma parte bizarra do corpo e tome piada em cima e a gente ri junto na mesma vibração. Ele é o simplório, o rústico, o desprezado que vive pelos cantos atrás de uma migalha de risada e talvez por isso mesmo que nossa vaidade não nos deixa ser mais palhaços.
Rir de si mesmo é apostar alto no humor, a virtude que todos nós carregamos e que podemos lançar mão em diversos momentos do dia. Inclusive, nas situações mais chatas. Claro que não vamos fazer piadas em velórios pois assim desvirtuaríamos o sentido do riso, mas deixar nosso perfil “Demócrito” sempre à disposição nos garante bons momentos de vida e convivência.  Demócrito, você sabe, foi um filósofo grego, pré-socrático, que diante da convicção de que os homens eram ridículos, só saía de casa com um belo sorriso no rosto. Para ele, era preciso uma boa dose de idiotice para se viver bem.
E já que rumamos pela Grécia antiga nesta crônica, vale lembrar aqui que a proposta de rir de si mesmo encontra abrigo em diversas obras da filosofia clássica. O estoicismo, movimento liderado por Epiteto, dá a todos a séria concepção de que é possível viver uma vida boa em um mundo de muitas imprevisibilidades e que mesmo com tudo fora de controle, ainda assim seremos nós os responsáveis por cair ou seguir. 
E se chegou até aqui pode estar pensando porque raios o Mancuzo está filosofando assim e que quero te dizer que só estou em pé hoje pela capacidade que descobri em rir de mim mesmo e de olhar para o buraco em que caí com muito mais serenidade e paciência. Um olhar, portanto, estoico, de alguém que pode ser tudo, menos frouxo e abatido ao descobrir em míseros segundos que prêmios, títulos, saldo bancário, reconhecimento, vaidades em geral e o tal do nome que perseguimos a vida toda para construir não valiam mais nada. 
Então, nos últimos 15 meses eu compreendi que o segredo de uma boa vida é ainda se encantar com si mesmo. Porque como dizem, se vamos ter que nos aguentar aonde quer estejamos, e vamos mesmo, até o momento de nossa morte, que façamos isso com toda patetice possível, com todo riso, toda graça e paixão.
Hoje tem marmelada? Tem, sim, senhor!
 

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