Você sente dor?

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 05/10/2021
Horário 06:00

Há dois tipos de dores: a que machuca e aquela que transforma. 
Quero falar desta última hoje e sei que muitos aqui devem também se reconhecer. 
Dor é uma palavra que nos acompanha desde cedo na vida. Ainda muito pequenos sofremos as dores dos machucados, dos esbarrões, das quedas e dos cortes. O tal do joelho ralado...
Aprendemos a lidar com ela porque a repetição nos ensina e assim vamos aos poucos tentando não sofrer tanto. Quantas vezes a gente caía, machucava, passava a mão, tirava a poeira e seguia? Quem nunca?
Acontece que em algum momento na vida a gente começou a sentir um tipo de dor estranha que não dava para bater a mão e sair. Não sarava nem mesmo com o mais ardido dos mertiolates. 
A adolescência é casa deste sofrimento. Quando nos apaixonamos pela primeira vez, a gente demora a entender que aquilo que sentimos é uma dor também. Se formos correspondidos, passa logo, mas se não, somos apresentados desgraçadamente à dor da paixão. Dói mesmo. Na alma e até entendermos que devastação interna é esta, sofremos. 
Mas, sabe? Também aprendemos a lidar com ela e aos poucos escampamos de situações que já sabemos de antemão que vão doer muito. Até que um dia, a gente encontra alguém que transforma dor em amor. Se ainda não aconteceu, continue firme. Vai acontecer. 
Agora, vamos lá: a dor mais difícil de lidar é a dor da verdade. 
Uma palavra, uma frase, um ato, uma traição são capazes de dores tão profundas que a gente acha mesmo que vai morrer de tanta angústia, de tanta desilusão. 
Esta dor vem de onde menos se espera e acontece em momentos menos improváveis ainda. É o desmoronamento de todo um castelo. De toda uma alma, que cai por terra e a gente tem certeza de que faria qualquer negócio para não senti-la. 
E ela fica ali, colocamos no armário, no lugar mais visível, mais fácil de encontrar e por mais que os dias passam, ela mesmo não passa. 
Mas diria que apesar de não passar, ela transforma. Passada a destruição da alma, a terra devastada que causa, enxergamos duas saídas: ou a alimentamos e sofremos ou aproveitamos para mudar. 
Mudar não é fácil e tampouco suave, mas importante para que façamos da dor o ingrediente principal de uma condição de vida fundamental: a maturidade.
 

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