Aldir Blanc

O Espadachim, um cronista contra o vírus do autoritarismo

OPINIÃO - Sandro Villar

Data 06/05/2020
Horário 05:04

Autor de versos brilhantes, Aldir Blanc ocupa um lugar de destaque na galeria dos grandes compositores brasileiros. Era um letrista notável e coube ao parceiro João Bosco a missão de musicar a maioria de seus versos. Letra de Aldir Blanc e música de João Bosco. Precisa dizer mais? Garantia de sucesso.

Elis Regina percebeu a beleza da obra dos dois e sua gravação de "O Bêbado e a Equilibrista" tornou-se um clássico num tempo em que se fazia música de verdade no Brasil, e não essas bobagens de hoje em dia e de hoje em noite. Tem gente que não compreende bem a mensagem contida nessa canção, chamada de hino da anistia, mas mesmo assim adora ouvir Elis Regina soltar o gogó a mil por hora.

Música de tempos difíceis, como agora, em que o Brasil está numa encruzilhada. Ainda bem que temos o general Braga Netto, que falou bonito sobre o papel das Forças Armadas num momento em que certos energúmenos querem tacar fogo no país.

Elis também gravou de autoria da dupla o bolero "Dois Pra Lá, Dois Pra Cá", canção perfeita na letra e na música. Os mais velhos, como o ancião aqui, certamente se lembram dos bailes onde as moças nos ensinavam a dançar bolero. "Não se preocupe. Eu conduzo você. São dois pra lá, dois pra cá", diziam.

Ouvi isso várias vezes e acrescento que a turma, naquele tempo, bebia "uísque com guaraná", como diz a letra. Aliás, uísque com guaraná é ruim pra cachorro. Tem gosto de remédio. Não sei se o Sinomar é desse tempo. O bolero termina com a fusão de "La Puerta", um clássico do bolero de autoria de Luis Demétrio.

Outra obra notável de Aldir e Bosco é a marcha-rancho "O Rancho da Goiabada", que tem, digamos, "um quê socioeconômico" e não exagero ao afirmar isso. A letra diz que os boias-frias, "quando tomam umas biritas espantam a tristeza e sonham com bife a cavalo, batata frita e sobremesa". Tal sobremesa desejada é a goiabada cascão, "com muito queijo", aliás, um "trem bão".

Outra marcha-rancho é também uma obra-prima. Falo de "O Mestre Sala dos Mares", homenagem ao marinheiro João Cândido Felisberto, conhecido como Almirante Negro. João Cândido participou da Revolta da Chibata no Rio de Janeiro, no fim de 1910. Ele foi um dos líderes do movimento que exigia melhores salários na Marinha e o fim das chicotadas em marinheiros descontentes. A música foi censurada por vários anos pela ditadura, a Redentora de 64, por - vejam só - exaltar a raça negra. Bicho ignorante é censor, hein?

Com outro parceiro, Cristóvão Bastos, Aldir compôs "Resposta ao Tempo", gravada por Nana Caymmi, que há pouco tempo andou falando besteira sobre política. A canção, com jeitão de samba-canção, está na trilha sonora da minissérie "Hilda Furacão" (Globo), escrita por Roberto Drummond.

No papel principal, Ana Paula Arósio, à época mais bonita do que cartão-postal. "Reposta ao Tempo" parece a história de uma vida. "O tempo sabe passar e eu não sei", diz um trecho da letra. Glória a Aldir Blanc e "glória a todas as lutas inglórias" e estamos conversados.

DROPS

Não escreve nem lê. É analfabeto de pai e mãe e de outros parentes.

Filme da Semana no Cine Brasil: O Dossiê, estrelando Mito Messias e Marreco.

O preço da comida está mais alto do que jogador de basquete ou é só impressão?

Estamos todos no mesmo carro de boi. Será? Chamem o vaqueiro.

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