Desafio da pandemia desperta rede solidária no Estado

Contexto Paulista

COLUNA - Contexto Paulista

Data 04/04/2020
Horário 05:06

Dezenas de ações para ajudar no combate à Covid-19 têm sido noticiadas nos últimos dias no Estado de São Paulo. As iniciativas partem de empresas, entidades, universidades e pessoas físicas. Um exemplo é o Departamento de Ciências Químicas e Biológicas do Instituto de Biociências da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Botucatu, que passou a fabricar, de forma temporária e emergencial, antisséptico líquido à base de álcool para distribuição gratuita à população carente e órgãos de serviços públicos essenciais. Trata-se de uma formulação alternativa e de melhor custo-benefício, aprovada e recomendada pela OMS (Organização Mundial da Saúde). A composição não utiliza o carbopol, matéria-prima em falta no mercado e presente no tradicional álcool em gel 70%. Entretanto, o produto a mesma eficácia ou até mais, segundo os pesquisadores envolvidos no projeto.

De vento em popa
Em uma semana, foram produzidos em Botucatu cerca de 350 litros do antisséptico. A substância tem como matéria-prima produtos químicos em estoque no local, que não terá as atividades comprometidas. A iniciativa conta com a parceria de empresas locais, como a Botupapel e Blowpet, que contribuíram com frascos para embalar o antisséptico. Para atender toda a possível demanda, o instituto está à procura de mais companhias parceiras que possam fornecer frascos plásticos estéreis, de 100 a 500 ml, com tampa ou bicos de aplicação.

Frase
"Sabemos que não estamos sós nesta batalha. Pesquisadores, centros de pesquisa e institutos de todo o mundo não estão medindo esforços para vencermos esta pandemia. Essa é mais uma maneira de a universidade contribuir diretamente com a sociedade", diz o professor Cesar Martins, diretor do instituto.

Em Santos
Empresas que atuam no Porto de Santos entraram na batalha contra o coronavírus e preparam doações de produtos de higiene, segundo reportagem do jornal “A Tribuna”. A Copersucar, por exemplo, doará 50 mil litros de álcool etílico 70% à Secretaria Municipal de Saúde de Santos. Segundo o gerente executivo de Operações da Copersucar, Rodrigo da Silva Lima, o produto será usado na desinfecção de ambientes e superfícies, principalmente em unidades de saúde. A iniciativa, segundo ele, é uma das ações de responsabilidade social da empresa e revela o cuidado com as pessoas. "Nosso foco é atender a comunidade de Santos, onde estamos inseridos, em parceria com a Secretaria de Saúde".

Pesquisas prioritárias
A Fapesp (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo) vai destinar R$ 30 milhões para projetos voltados ao combate do novo coronavírus. Serão realizados dois processos de seleção: um para universidades e grupos de pesquisa focados no estudo da Covid-19 e outro para empresas que estejam prontas para desenvolver novas formas de tratamento dos sintomas da doença. Os projetos serão avaliados com urgência. "Nós precisamos de respostas rápidas e estamos nos articulando para viabilizar as soluções dessa pandemia", complementou.

Estímulo
A Fapesp divulgou os dois primeiros auxílios aprovados no âmbito de edital de pesquisa sobre a Covid-19. Um dos estudos visa avaliar a eficácia de dois fármacos no combate à inflamação pulmonar em pacientes graves. O outro pretende avaliar a dinâmica de transmissão do novo coronavírus em uma cidade amazônica endêmica para malária. "Com a chamada, a Fapesp busca estimular pesquisadores que já tenham financiamento a redirecionar recursos financeiros e humanos de seus projetos a temas que contribuam para o enfrentamento da pandemia covid-19", diz Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fundação.

Medicamentos em teste
Na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), os professores Licio Velloso e Maria Luiza Moretti vão coordenar um ensaio clínico com 180 pacientes internados no Hospital de Clínicas com quadro de edema pulmonar confirmado por exame de tomografia. O objetivo é testar a eficácia de dois medicamentos já aprovados para uso humano no tratamento da inflamação aguda e de rápida progressão que tem levado à morte parte dos infectados pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). Os dois fármacos incluídos no estudo inibem a ação de um peptídeo chamado bradicinina, que tem potente ação pró-inflamatória e faz parte da resposta imune inata – aquela que é acionada assim que um patógeno invade o organismo.

Redução da mortalidade
A expectativa do grupo é que o tratamento amenize a inflamação no pulmão, contribuindo para reduzir a taxa de mortalidade – hoje em torno de 20% no grupo dos pacientes graves – e o tempo de internação em UTI (Unidade de Terapia Intensiva). “Nossa hipótese é que, ao se ligar à ACE-2, o coronavírus bloqueia sua atividade e, como consequência, a bradicinina se acumula no pulmão. Isso explicaria o fato de alguns pacientes desenvolverem edema pulmonar [acúmulo de líquido nos alvéolos que impede a troca gasosa] tão rapidamente que morrem pouco tempo após dar entrada no hospital. Quando o grau de edema é muito alto, nem mesmo respiradores sofisticados conseguem manter a respiração", diz o pesquisador. 

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