Que voltarei depressa, tão logo a noite acabe, tão logo esse tempo passe, para beijar você...

Persio Isaac

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 15/03/2020
Horário 04:56

Isabel entrou num bar com seu namorado. Júlio era um empresário muito bem sucedido. Isabel tinha lá seus sonhos de liberdade. Não queria ser dependente de casamento, não queria viver como sua mãe, sempre dependente do seu pai machista. Júlio gostava de falar muito dos sucessos dos seus negócios. Ela desejava um olhar carinhoso, um beijo, um abraço de eternidade. Nesse bar tinha música ao vivo. Enquanto eles escolhiam a bebida, a comida, ela ouve uma batida de um violão, um samba triste. Um rapaz com uma voz cheia de melancolia cantava esse samba triste. A letra falava de saudade, de adeus, de solidão.

A voz melancólica de Pedro despertou o seu coração. Julio continuava a falar dos seus negócios. Os ouvidos dela só escutavam aquele samba triste. Naquela noite, seu coração pediu uma pausa de mil compassos. Passado algumas semanas, Isabel está no metrô. De repente para a sua surpresa, reconhece o rapaz do violão. Vence a sua timidez, chega perto dele e pergunta: “Desculpe, você não toca no Bar Epílogo?”. “Sim, por quê?”. “Nossa que coincidência, estive lá e adorei sua voz cantando”. “Ah, muito obrigado”. Isabel nota que Pedro é muito retraído. A timidez o devora.

Ela continua tentando aquecer o papo. “Como é seu nome?”. “Pedro. E o seu?”. “Isabel. Você cantou um samba que gostei muito”. “Qual?” “Ah, eu lembro alguns pedaços da letra. Achei triste”. Pedro sorri, acha engraçado. “Por que está rindo?”. “Você achou triste?”. “Achei”. “É um samba que fiz sobre um amor de um grande amigo”. “Você que compôs? É muito bonito, apesar de triste”. Ele sorri de novo. Seu olhar era tranquilo, Isabel se sentiu bem.

“E esse seu amigo, pela letra parece que ele viveu um grande amor”. Pedro olha para Isabel e diz: “Depois que acabar o meu trabalho aqui, vou visitá-lo. Ele sofreu um acidente e infelizmente esse grande amor morreu nesse acidente”. “Nossa coitado”. “Agora você sabe porque é triste”. “Mas ele está bem?”. “De corpo sim, de alma acho que vai ser sempre um samba triste”. Naqueles minutos com Pedro, Isabel sentiu a vida abraçá-la. “Tchau Pedro, aparece lá no Bar Isabel”. “Vou sim, tchau...”.

 

 

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