"A Ré Misteriosa"

DignaIdade

COLUNA - DignaIdade

Data 13/06/2023
Horário 06:40

A peça teatral “Madame X” de 1908 já rendeu várias versões para o cinema: em 1937 com Gladys George e em 1966 com Lana Turner. Na televisão brasileira, também em 1966, o autor Walter George Durst fez uma adaptação em forma de telenovela para a TV Tupi, estrelada por Nathália Timberg. Na trama, ela é Elisa, casada com um candidato à vida política que negligencia a esposa e o filho pequeno, e ela acaba arrumando um amante. A cunhada descobre o segredo e ela resolve terminar o caso, culminando na morte do amante em um acidente. Chantageada pela cunhada, ela é obrigada a abandonar filho e marido e seguir sem destino. Anos depois, bêbada e numa vida desregrada é novamente chantageada por um gigolô que descobre seu segredo, e agora, ela acaba matando para se defender. Desiludida da vida, ela se recusa a revelar o nome e a se defender, assinando com X e sendo conhecida como a Ré Misteriosa. Um jovem rapaz advogado a defende no tribunal, sem saber que ela é na verdade sua verdadeira mãe. Dramalhão dos antigos. Ainda no elenco: Hélio Souto, Lima Duarte, Maria Célia Camargo, Marisa Sanches e José Parisi. 
    
“Rosas para Dona Rosa”

Dona Rosa sempre foi apaixonada por flores. Desde moça. Dispensava qualquer presente por um bom ramalhete. O esposo Sebastião já sabia disso, e em toda data especial, já reservava uma dúzia de rosas vermelhas, suas preferidas. Durante anos foi assim. Tiveram uma vida feliz, mas Sebastião partiu cedo e Rosa seguiu em frente sem filhos. Como forma de compensação, toda sexta-feira passava numa floricultura e comprava rosas vermelhas para si mesma. Ela mesmo dizia: eu posso me presentear. Eu mereço. Ela se lembrava da personagem Serafina interpretada por Marília Pêra em uma antiga novela em preto e branco, “Uma Rosa com Amor”, que enviava diariamente uma rosa para si mesma para que pensassem que tinha um noivo. Dona Rosa não queria passar a ideia de pretendentes. Ela mesma ia à floricultura, escolhia sua rosa e levava consigo, onde colocava em um bonito jarro para enfeitar a sua vida. Se isto era uma mania, Dona Rosa assumia e cultivava o hábito. Se por algum motivo, ela não fosse buscar sua rosa na sexta-feira, o Seu Garcia, o dono, sabia que tinha acontecido alguma coisa: uma viagem, uma visita ou uma gripe a tinham impedido. A rosa da Dona Rosa era famosa, quem a visitasse já esperava encontrar uma rosa perfumada bem no móvel de entrada. Como não tinha descendentes diretos, Dona Rosa, incumbiu à sobrinha, de que quanto partisse, ela lhe deixaria a casa, mas ela deveria semanalmente depositar uma rosa sobre seu túmulo, enquanto ela vivesse. Promessa feita. Os anos se passaram, e um dia Dona Rosa se foi. A sobrinha cumpriu inicialmente a promessa, mas o tempo esfria as dívidas e esvazia os sentimentos. Falhou uma semana, uma quinzena, até que deixou de levar. Há anos não aparece por lá em seu jazigo. Contudo, semanalmente uma rosa vermelha é posta sobre o túmulo de Dona Rosa. Infalivelmente. Seu Garcia continuou realizando o desejo de sua freguesa. Era um prazer para ele continuar atendendo a cliente que se tornou amiga. Um afago na memória da doce Dona Rosa. 

Dica da Semana

Livros

“Lupicínio – Uma Biografia Musical”:
Autor: Arthur de Faria. Editora Arquipélago. O autor mergulha na vida do compositor Lupicínio Rodrigues, um expoente negro da música brasileira, e seus encontros musicais com Elis Regina, Elza Soares, Caetano Veloso e João Gilberto, e os bastidores de clássicos da música, como “Se Acaso Você Chegasse”, “Vingança”, “Nervos de Aço” e “Cadeira Vazia”. 


 

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