A Cesp (Companhia Energética de São Paulo) iniciou a operação que tem por objetivo implantar microchips em até 600 peixes de espécies migratórias prioritárias da bacia do Rio Paraná. A iniciativa, que deve se estender até o término da piracema, integra o Programa de Conservação da Biodiversidade da UHE (Usina Hidrelétrica) Engenheiro Sérgio Motta (UHE Porto Primavera), em Rosana, com o objetivo monitorar o comportamento das espécies prioritárias durante o período reprodutivo.
“A Cesp tem o compromisso de contribuir para a conservação da biodiversidade de toda a região e, para termos sucesso nesse objetivo, precisamos, antes de tudo, monitorar e estudar as espécies e o bioma no qual elas estão inseridas. Para isso, as informações obtidas por meio dessa pesquisa por amostragem são essenciais. Esses estudos, aliados à tecnologia empregada na nossa escada para transposição de peixes, irão nortear todas as nossas ações de conservação da fauna aquática no Rio Paraná e seus tributários”, destaca Odemberg Veronez, gerente de Sustentabilidade da Cesp.
De 2009 a 2025, foram 8.048 indivíduos marcados, contemplando atividades realizadas tanto no reservatório de Porto Primavera quanto nos seus principais tributários, incluindo os rios do Peixe, Aguapeí, Verde e Pardo.
Durante o processo de marcação, os peixes recebem microchips (PIT tags) e etiquetas externas de identificação (tags visuais), que permitem acompanhar a movimentação das espécies ao longo do rio e da escada de transposição da usina. O processo de marcação segue rigorosos protocolos de bem-estar animal. Após a captura, os peixes são anestesiados, pesados, medidos e marcados. Em seguida, permanecem em uma área de descanso até se recuperarem totalmente do anestésico antes de serem devolvidos ao rio.
Entre as principais espécies monitoradas nesse ano, estão piapara, jurupoca, piauçu, piapara, pacu, mandi-amarelo, mandi-paraguaio, barbado, curimba, pintado, peixe-cachorro, dourado, jaú, jurupesen e cascudo-preto, todas com hábitos reprodutivos migratórios típicos do período da piracema. As marcações ocorrem ao longo do ciclo reprodutivo, entre outubro e fevereiro, conforme a fase de reprodução de cada espécie.
Os microchips implantados nos peixes permitem o registro automático da passagem das espécies pela escada de transposição da UHE Porto Primavera, que possui nove antenas de leitura por radiofrequência alimentadas por energia solar. “Cada vez que um peixe marcado passa pela escada, o sistema registra a espécie, o dia, o horário e a direção do movimento, se estava subindo ou descendo o rio. Essas informações são fundamentais para avaliar o comportamento migratório e a efetividade das estruturas de transposição”, explica o biólogo Leandro Celestino, consultor de Sustentabilidade da Cesp.
A escada para peixes da usina, com quase meio quilômetro de extensão, foi projetada para simular as condições naturais de migração e garantir a conectividade entre os ambientes rio acima e rio abaixo da barragem. Segundo dados do Programa de Ictiofauna da Cesp, das 18 espécies migradoras registradas na região, 100% utilizam a escada durante a piracema, demonstrando a importância da estrutura para a conservação da fauna aquática do Rio Paraná.

Foto: Cesp - Após captura, peixes são anestesiados, pesados, medidos e marcados
Além das marcações internas, a Cesp também realiza a identificação externa de alguns indivíduos, com etiquetas visuais que trazem o telefone do canal Diálogo Aberto da companhia. Após o período da piracema — quando a pesca de espécies nativas volta a ser permitida —, pescadores e ribeirinhos que encontrarem peixes marcados são convidados a informar a captura, relatando o local, data e hora.
“Essas informações complementam o monitoramento técnico e ajudam a entender como as espécies se distribuem pela bacia e se deslocam no reservatório. São dados essenciais para aprimorar as ações de conservação e garantir a sustentabilidade dos ecossistemas aquáticos”, reforça Odemberg Veronez.
Entre as informações trazidas pelo programa, está a confirmação de espécies marcadas que utilizaram o sistema de transposição de Itaipu, totalizando mais de 400 quilômetros de distância percorrida. Além disso, o estudo ainda permitiu comprovar, pela primeira vez na história, que os peixes também utilizam a escada para "descer" o rio.
Atualmente, o reservatório da UHE Porto Primavera, com 245 quilômetros de extensão, abriga 125 espécies nativas de peixes, o que representa 59% de todas as espécies registradas na planície de inundação do alto do Rio Paraná.