Ô abre alas

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 19/02/2023
Horário 04:30

Não tenho muitas estórias para contar do carnaval, mas elas são sempre inesquecíveis. Quando criança, a folia era produzida em frente à casa de minha avó, no famoso quintal dos “Pimenta”. Dona Clélia ia até para a máquina de costura e improvisava fantasias com os retalhos de pano e adereços que estivessem ao seu alcance. Pronto! Lá saia o bloco da Glicínia, da Clotilde, da Vanilze, do Paulo Gustavo. Tempo bom...
Em São Paulo fui assistir ao desfile das campeãs apenas uma vez no sambódromo do Anhembi. É um espetáculo inesquecível (recomendo que você assista!). Quando a escola passa pela avenida, o povão sacode a arquibancada e brota com muita força um sentimento de pertencimento que contagia quem está em volta. É o direito de ser feliz, de respeitar as diferenças (nem que seja apenas por uma noite!).
Durante os 33 anos que vivo em Presidente Prudente fui testemunha de algumas estórias carnavalescas. Havia aqui os bailes de carnaval dos clubes da cidade. Apesar de sócio do Tênis Clube, frequentei também as noites de carnaval da Apea e do São Fernando até a chegada dos ritmos baianos, o que foi o prenúncio do fim. A juventude não estava mais interessada nas tradicionais marchinhas que encantavam o salão: “ó abre alas, que eu quero passar”, “Mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar”, “Ôôôô, Aurora… Veja só que bom que era… Ôôôô, Aurora!”
Deixo para os especialistas as explicações sociológicas acerca do esvaziamento dos salões carnavalescos. O que importa é que o carnaval é mesmo uma festa popular no Brasil. Muita música, brincadeiras, uma explosão de alegria. Bom mesmo é o samba na avenida. E por aqui passou muita gente...Viva a Escola de Samba Unidos do Jardim Paulista, a Bico de Ouro do Jorjão e do Valdecir, a Mangueira do Sombrinha, os Malacos do Tênis do Amendoim, a Unidos da Zona Leste do Fornalha!
Este ano eu segui o único bloco de arrasto da cidade, os ÊtaNóis. Saímos do Galpão da Lua até a Praça Nove de Julho, onde aconteceu a tradicional roda de ciranda ao redor da fonte. Muitas crianças, concurso de fantasia. Pois é... carnaval se faz com tradição. Já se foram 16 anos desde que aquela turma começou a brincadeira, procurando uma forma alternativa de curtir o carnaval entre as repúblicas de estudantes da Unesp (Universidade Estadual Paulista) lá do Jardim das Rosas. Latas e panelas como instrumentos musicais. Composições próprias...E não é que os meninos têm o samba no pé? “Oh, jardineira, por que estás tão triste? Mas o que foi que te aconteceu?” “Ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí!”
 

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