A jovem “afogou” o carro no meio da avenida. Era um carro da autoescola. Pacientemente, esperei tranquila, ela retomar o “controle parcial “do veículo com o auxílio do supervisor. Era uma aprendiz, afogada em angústia. Ligou o carro novamente e seguiu mais um pouco até o sinaleiro. “Afogou” novamente o carro e a angústia a deixa afogada em suas cobranças, medo de errar, receio do que irão pensar, paranoia, enfim.
Crescer é tomar uma direção ao novo e ao desconcertante desconhecido. Como é complexo e ao mesmo tempo desafiador o caminho do crescimento! Poderíamos permanecer por tempo indeterminado, na zona de conforto ou no ninho uterino da mamãe que nos gerou, mas a hora chega. A própria fisiologia e a anatomia bem como o impulso de autoconservação da vida, empurra para as inerentes evoluções e transformações. A fralda, calça, calçado, camisa, cama etc., passam a não servir mais.
Lembro quando fui aprendiz na autoescola. Foi realmente muito difícil. Ao término da aula prática, saía do carro ensopada e trêmula. Foi muito tenso e mágico ao mesmo tempo. Dezoito anos é a faixa etária mais esperada. É a idade de querer que o raio da circunferência alcance o céu e ao mesmo tempo encurte. Os desafios e demandas aumentavam dia a dia. O crescimento e a transformação vêm acompanhada de taquicardia. A capacidade de tolerar o desconhecido faz com que o novo possa aparecer.
A poesia de Antônio Machado nos lembra: “Caminhante não há caminho, se faz caminho ao andar...” (1901). E assim, vamos trocando de “roupas “com frequência. Para conquistar a Carteira Nacional de Habilitação passamos pelo processo de aprendizagem. Para dirigir um automóvel necessitamos dirigir ou sustentar nossa própria vida, dirigir a si próprio. Esse percurso é singular e não plural. O processo de individuação é construído com muitos carros “afogados nas esquinas”. É o aprender com a experiencia emocional e é intransferível. Não podemos adiar, pular ou queimar etapas.
Da fralda à beca e da beca à fralda, essa transição nos é exclusiva. É um percurso pertencente à vida. Todos suamos, trememos, agitamos, gememos, mas é preciso seguir. Postergar tira nossa paz. Todos nós podemos e somos capazes. Enfrente. A garota no carro da autoescola ligava o carro e seguia, mesmo com o terror estampado em seus olhos. A vida consiste em estados de submissão à autoridade e assim vamos experienciando a responsabilidade por si mesmo.