“Chá da Vovó”: hábitos culturais antigos reúnem gerações em unidade escolar

Projeto que envolveu os estudantes de 11 e 12 anos durante todo mês de agosto na busca e compreensão de lendas e histórias

VARIEDADES - SANDRA PRATA

Data 05/09/2018
Horário 04:00
 José Reis - Alunos entrevistaram as avós, Clarisse e Maria José, no “Chá da Vovó”
 José Reis - Alunos entrevistaram as avós, Clarisse e Maria José, no “Chá da Vovó”

A manhã de ontem na Escola Estadual de Ensino Integral Professora Oracy Matricardi começou saborosa.  E não apenas pelo café da manhã do “Chá da Vovó”, mas também pela sede de saber. O evento reuniu 70 alunos dos sextos anos A e B e duas avós das turmas para trocarem experiências e compartilharem vivências entre doces e bolos! A iniciativa faz parte do projeto “Folclore e Seus Seres Fantásticos” que envolveu os estudantes de 11 e 12 anos durante todo o mês de agosto na busca e compreensão de lendas e histórias. Idealizado pela professora de Língua Portuguesa Meire Aparecida Carvalho Fuzaro Oliveira, tem a colaboração de docentes das disciplinas de Arte, Educação Física, História, Geografia, Matemática, Ciências e da Sala de Leitura da unidade.

Meire leciona na instituição há quatro anos e, para ela, com o passar do tempo às novas gerações estão perdendo a ligação com a trajetória e hábitos culturais antigos. Por isso, pensou no projeto que visa explorar a fundo contos antigos e a história do folclore. Além de entender diversas áreas de abrangência, entrando aí, o trabalho das demais disciplinas. Conforme a mesma, cada professor trabalhou um segmento que complementasse o assunto central e resgatasse de alguma forma os costumes antigos. “Eu trabalhei com os contos, com a estrutura gramatical, a escrita, mas a Geografia, por exemplo, explorou a localização de cada conto, como por exemplo, onde ele surgiu em quantas regiões do Brasil ele se repete [o resultado foi um mapa de lendas folclóricas]. A Ciências com as ervas, os tipos de chás usados antigamente, cada matéria contribuiu a sua maneira”, explica.

Conforme a docente, o projeto foi estudado e desenvolvido durante todo o mês de agosto. Com isso, os contos resgatados pelos alunos neste período originaram cartazes que foram espalhados pelas paredes do corredor próximo à sala de Leitura da escola.

Passado melhorando o presente

Segundo a diretora da unidade escolar, Marta de Andrade Primo Mendes de Oliveira, desde que teve conhecimento da ideia do projeto que estava em sua mesa, logo achou interessante. E, o que mais lhe chamou atenção foi o fato de unificar gerações e aproximar as crianças dos avós com o “Chá dos Avós”. “Achei surpreendente e ao mesmo tempo estranho pensar que, hoje em dia, tomar chá com os avós se tornou algo antigo, folclórico. Com isso, comecei a pensar e vi que é necessário desenvolver um trabalho para a valorização dos mais velhos”, expõe.

A fundamentação das concepções de Marta deu-se pela observação diária do comportamento dos alunos. Ela conta que percebeu que hoje o principal meio de comunicação que eles usufruem são as mídias e redes sociais. Entretanto, quando isso evoluí para um relação interpessoal, o desconforto é notório. “Eu atendo muitos conflitos, tanto na escola como fora, e percebi que eles não sabem lidar com isso, não tem esse desenvolvimento de relacionamentos interpessoais. A ideia da escola é justamente promover, incentivar e estimular esse diálogo entre eles e essa troca de ideias com outras pessoas. Daí a importância de ouvir avós e pessoas mais velhas sobre suas vivências”, pontua.

Outro ponto que a diretora destaca como importante é a ampliação de perspectivas em relação à própria vida. Conforme ela, a escola trabalha com o “projeto vida”, ou seja, dá base para que o aluno construa sua vida e conquiste uma profissão. Porém, para ela, as crianças não podem se prender apenas a isso. “Ter uma profissão é importante, claro, mas é preciso que eles percebam que existem outras coisas importantes também, como qualidade de vida”, explana.

Aprendizado coletivo

A disciplina de Matemática trouxe o contato das crianças com brincadeiras numéricas de antigamente como amarelinhas e situações problema. Artes trouxe teatro de sombras baseados em lendas e Educação Física atividades históricas como queimadas, pular elástico. Já a Sala de Leitura desenvolveu exposições de objetos antigos e cedeu espaço para pesquisa de lendas durante o mês de agosto. A docente de Ciências da Natureza, Ana Cristina de Andrade Martins, não ficou de fora dessa. A educadora explica que fez com que os alunos conhecessem as ervas e chás da época dos avós, não apenas para aproxima-los, mas para desenvolver o interesse. Tática essa que, conforme a mesma deu certo. “Eles ficaram curiosos, pesquisaram bastante. Acredito que trabalhar com outras disciplinas estimula. Temos essa cumplicidade aqui, um sempre colaborando com a disciplina do outro, acho essa união importante para o aprendizado”, acentua.

O grupo de amigas, Luana Santos Martins, Ana Júlia Pereira, Yohana dos Santos Oliveira e Barbara Correia de Souza Gomes que tem idade de 12 e 11 anos, respectivamente se conhece desde o 3º ano e agora, no 6º, concordam ao dizerem que ter autonomia em uma atividade na escola foi a melhor coisa que o projeto proporcionou. “Nós mesmas que buscamos, pesquisamos. Não foram só os professores e a diretoria e gostamos de poder compartilhar desses momentos, pois, estamos aprendendo a ser protagonistas”, relata Luana. Barbara disse que isso trouxe várias informações que contribuíram para desenvolver melhor seus aprendizados.

Difundindo experiências

Clarisse Ricci Lima, 64 anos e Maria José Botelho, 72, são as duas avós que tiraram a manhã para conhecer as crianças da escola. Ambas com netos estudantes do 6º ano da instituição concordam quando o assunto importância de preservar as histórias antigas.  “É bom para que eles vejam as diferenças, na minha época, por exemplo, não existia tantas oportunidades como hoje. O estudo era muito diferente”, frisa Clarisse.

Para Maria, a principal contribuição é a participação familiar no ambiente escolar. “Na época dos meus filhos, por exemplo, não tinha essa interação com a escola, e eu converso muito com meu neto [Leonardo Flores] acho que poder conhecer seu ambiente escolar é importante tanto para mim quanto para ele”, acentua.

E Leonardo concorda plenamente com a vó Maria! Para o neto,  trazê-la para a escola é algo novo para ele. “Ninguém costuma vir nos projetos da escola, ela é a única, e sempre me conta muitas histórias então poder fazer com que ela participe é legal”, ressalta o neto.

“Nós mesmas que buscamos, pesquisamos. Não foram só os professores e a diretoria e gostamos de poder compartilhar desses momentos, pois, estamos aprendendo a ser protagonistas”

Luana Santos Martins

aluna do 6º ano

 

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