Sempre penso sobre o tempo que cada um necessita para realizar determinadas ações. Somos singulares entre pluralidades. Há os que comem, digerindo rápido, outros mais lentos, os que comem pouco e outros devoram, sem ao menos reconhecer o sabor de cada alimento. Nosso coração tem um ritmo. Corpo e mente, sempre conectados e interligados. Dependendo do desequilíbrio psíquico ou mental, ele entra em arritmia, assim como o pulmão, circulação, sistema gástrico, etc., podendo ocasionar a doença psicossomática.
O luto ou a perda de um ente querido, ou de qualquer relação constituída por um ritmo e cotidiano, demandam tempo. Cada pessoa reage à sua maneira. É necessário respeitar o tempo e a subjetividade de cada um. Há os que permanecem enlutados, des-libidinizando do mundo externo, para permanecerem velando os seus mortos. Eles sentem bem assim. Há os que o substitui por soluções mágicas ou ilusórias até para permanecerem vivos. Diante do luto sabem bem o que perderam.
Já na melancolia, ele sabe quem perdeu, mas não sabe o que perdeu nele próprio. Quando dormimos é porque lentamente desapegamos do universo externo, dos estímulos, deixando assim, o estado de vigília. Os sonhos são os guardiões do sono. É a via régia para o inconsciente. Quando dormimos e sonhamos, se não anotarmos o sonho - considerado um material valioso para nós, psicanalistas - vira fumaça. Assim, não o recuperamos mais.
É preciso tempo quando despertamos e entramos em estado novamente de vigília. Há aqueles que permanecem mais lentos para despertar, preferem continuar sonhando. Outros já são mais truculentos, ligando som, jornais, falando alto e incomodando. Lembro de quando meus pais eram vivos, viajava para estar com eles, aproveitava cada segundo. E ao meu retorno, vinha ainda com os resquícios deles, impregnado em mim.
As emoções e as passagens demandam certo tempo. O silêncio é muito vivo, não são somente ausência de ruídos. Podem estar namorando com a memória. Cada um de nós tem o seu ritmo. Uns são mais impulsivos, operativos, mecânicos e hiperativos. Há os mais sensíveis, emocionais, românticos e perceptivos. Nas relações interpessoais, é preciso respeitar o ritmo de cada um. Há os que não toleram a dor da perda e resolvem desvincular-se de tudo. Há os que grudam no outro por medo da perda, e perdem a si próprio.
Conforme Vitor Guerra, psicanalista, podemos pensar que o universo rítmico, musical, significante, faz parte essencial das bases primeiras da constituição do ser humano, das suas marcas arcaicas de subjetivação. Ele fala que, a construção do vínculo entre a mãe e o bebê pode ser vista como uma história de encontros e desencontros, de claridade e opacidades, de harmonia e desarmonias.
