Em Prudente, carro é o principal meio de transporte para chegar ao trabalho, aponta IBGE

Sociólogo avalia que uso de veículos automotores por 90% dos trabalhadores é “um grande problema”; Prefeitura terá R$ 25 milhões do Novo PAC para mobilidade

PRUDENTE - MELLINA DOMINATO

Data 19/10/2025
Horário 04:05
Foto: Arquivo/O Imparcial/Maurício Delfim Fotografia
Do total de 91.330 trabalhadores, 51,31%, ou 46.863 pessoas utilizam automóveis
Do total de 91.330 trabalhadores, 51,31%, ou 46.863 pessoas utilizam automóveis

Novos dados do Panorama do Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelam que, em Presidente Prudente, maior cidade do oeste paulista, com uma população estimada em 225.668 habitantes, do total de 91.330 trabalhadores, 51,31%, ou 46.863 pessoas, utilizam o carro como principal meio de transporte para chegar ao local de trabalho.

A motocicleta vem em segundo lugar, empregada por 18.306 pessoas (20,04%); seguida do ônibus, utilizado por 13.189 trabalhadores (14,44%). A caminhada vem na quarta colocação, já que 9.125 pessoas, ou 9,99% da classe, seguem para o serviço a pé. Na sequência está a categoria “Outros”, que inclui os mototáxis, táxi, vans, peruas ou assemelhados, com 2770 usuários diários (3,03%) e, por último, a bicicleta, usada para ir ao trabalho por 1.077 pessoas (1,18%). 

O sociólogo prudentino Marcos Lupércio Ramos avalia que tal cenário de quase 90% dos trabalhadores usando veículos automotores e motos contribui para a poluição do ar, bem como a sonora. E, embora não saibamos quantos desses exemplares são elétricos, trata-se de “um grande problema”, considerando que apenas 15% utilizam o transporte coletivo, no caso, o ônibus. “Esse índice é muito baixo, mas é tônica em cidades do porte de Presidente Prudente. Infelizmente, ao longo dos séculos 20 e 21, houve o privilégio para o transporte individual via automóveis”, explica. 

Para Marcos, o investimento em transporte público coletivo deveria ser maior, porém, frisa que há dificuldades para isso, pois a cidade, principalmente em seu núcleo mais central, não foi planejada para dar maior agilidade ao uso do ônibus. “São poucas avenidas e, as que existem, se enquadrariam mais no termo ‘ruas mais largas com canteiro central’. Com avenidas mais largas, poderia haver ‘corredores de ônibus’ e/ou faixas exclusivas para ônibus, porém, isso é impossível com a malha urbana que temos: avenidas inadequadas, estreitas, assim como as ruas. No caso das últimas, com trânsito nos dois sentidos em sua maioria. O tema é polêmico e de difícil solução a curto e médio prazos”, avalia.

Possibilidades ao atual cenário

Como mudar o atual cenário? Para o sociólogo, uma das possibilidades para maior agilidade no trânsito seria um maior número de avenidas e ruas em sentido único, como, por exemplo, a Avenida Manoel Goulart, indo no sentido bairro até a rotatória com a Avenida Washington Luiz e, a própria Avenida Washington Luiz indo no sentido bairro/centro. “A mesma coisa poderia ser efetuada nas Avenidas Brasil e Coronel Marcondes, que são paralelas. Em se fazendo isso, com essas avenidas em suas áreas mais centrais, seria possível termos corredores de ônibus”, cita.

Outra alternativa seria desestimular o uso de automóveis na área central com a diminuição no número de vagas de estacionamento e aumento de estacionamento das vagas remanescentes. “Essa medida seria bem impopular, portanto, seria complicado ter ações políticas nesse sentido”, comenta Marcos.

Já uma terceira possibilidade, conforme o sociólogo, seria ter mais um ou dois calçadões no Centro. “Talvez três, nas ruas paralelas ao atual Calçadão e a ele próximas. Também difícil do ponto de vista político, pois traria descontentamento aos moradores dessas ruas em relação à sua mobilidade urbana por meio de automóveis e motos”, aponta.

A utilização do arco ferroviário que passa por Prudente e está inativo desde o fim do século 20, é mais uma opção, segundo Marcos. Para tal, seriam necessárias discussões com o governo federal que é o detentor do poder de concessão, além da empresa que detém, atualmente, a concessão do uso da ferrovia. “Em sido possível isso, alguns dos terminais de integração poderiam ser construídos próximos a essa linha férrea. Talvez um nas proximidades do Distrito Industrial, outro no Centro, na atual Estação Ferroviária, e outro nas confluências de outros bairros, talvez em direção a saída para Montalvão”, detalha.

“Enfim, possibilidades de melhoria no transporte público existem, todas elas dependem de muita vontade política em, de fato, resolver ou minimizar - pelo menos - essa questão. Outras demandarão maior volume de recursos públicos, tanto municipais, como estaduais e federais”, afirma.

Estímulo ao uso do transporte coletivo

Para o sociólogo, vias de sentido único, calçadões e restrições de estacionamentos, por exemplo, não demandariam elevado investimento público, apenas maior planejamento e vontade política, e poderia dar maior estímulo ao uso do transporte coletivo. Aliando essas medidas com a construção de terminais de integração - bairro/centro e centro/bairros - e, ocorrendo nesses terminais a presença de estacionamento para motos, automóveis e bicicletas, o estímulo seriam ainda maior ao uso de ônibus. 

“Há alguns elementos dificultadores, o principal deles é o preço da passagem. Daí, talvez, a necessidade de se discutir a questão da tarifa zero. Aliás, há grandes chances dessa discussão ser debatida no processo eleitoral do ano que vem a nível federal. Já temos mais de 130 cidades no Brasil com tarifa zero, mas nenhuma do porte de Presidente Prudente”, cita. “Aqui perto temos Regente Feijó que já possui, há alguns anos, ônibus utilizados e mantidos pela Prefeitura no transporte coletivo, no caso, transporte urbano público coletivo e gratuito. Mas, o número de habitantes de Regente Feijó corresponde a apenas 10% do de Presidente Prudente. Não creio que possa servir de modelo, mas merece ser estudado”, afirma Marcos.

“A possibilidade de tarifa zero é uma discussão que tende a crescer no próximo ano, como manter os custos é o grande gargalo. Já há ideias sendo debatidas, como o uso do passe pago pelas empresas. Enfim, não há soluções fáceis considerando as décadas de privilégios ao transporte individual - automóveis - e a falta de planejamento urbano que considerasse em primeiro lugar a mobilidade dos cidadãos e dignidade em termos de qualidade de vida”, encerra o sociólogo.

Modernização à vista

A notícia de que, na capital do oeste paulista, quase 90% dos trabalhadores utilizam veículos automotores para chegar ao trabalho vem de encontro ao anúncio feito pelo Executivo, de que o município foi selecionado pelo Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) de Mobilidade Urbana e será contemplado com o valor de R$ 25 milhões para melhorias na cidade.

Como noticiado neste diário, em agosto, o objetivo principal, conforme a Prefeitura, é a modernização do sistema de transporte público, reduzindo tempo e custo de viagens, construindo pontos de integração e facilitando o deslocamento entre diferentes regiões da cidade. A iniciativa também inclui a implantação de uma nova rede de ciclovias e a revitalização da estrutura já existente.

A proposta também prevê a integração das ciclovias com o sistema de transporte coletivo, incentivando o uso da bicicleta como meio oficial de transporte complementar e “promovendo mais sustentabilidade, conforto e segurança”. Com as intervenções e os pontos de integração em funcionamento, serão reduzidos os longos trajetos das linhas do transporte coletivo e, em contrapartida, serão ampliadas as ofertas de horários.

Ainda, para tornar o transporte coletivo mais eficiente, o sistema será organizado em linhas locais e linhas expressas. O intuito é que seja feita a integração para diminuir o tempo de viagem. As linhas locais atenderão os bairros e levarão os passageiros até um terminal, enquanto as linhas expressas ligarão os terminais entre si, sem paradas no caminho. Os terminais também vão se integrar às ciclovias, com caminhos para pedestres.

O sistema será padronizado, com linhas de duração semelhante e horários organizados como um relógio. Linhas locais terão cerca de 10 km e, linhas expressas, 15 km, com viagens a cada 30 minutos. As linhas expressas pararão apenas nos terminais. Já as linhas locais serão circulares, saindo e voltando para o mesmo terminal, passando por escolas, postos de saúde e outros pontos importantes.

Arquivo


Marcos: “Ao longo dos séculos 20 e 21, houve privilégio para transporte individual via automóveis”

Arquivo/O Imparcial/Maurício Delfim Fotografia


Linhas locais atenderão bairros e levarão passageiros até terminal, enquanto expressas ligarão terminais

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