Flor de maracujá

Raul Borges Guimarães

COLUNA - Raul Borges Guimarães

Data 13/04/2025
Horário 05:01

Há poucos dias tive a oportunidade de conhecer pessoalmente Carlos Ruggiero, professor emérito da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) de Jaboticabal. Para o Prof Ruggiero, antes de mais nada, é preciso aprender a conversar com o produtor, é preciso compreender a necessidade que o produtor tem de dominar a informação. Não foi por acaso que ele foi o fundador do portal TodaFruta, uma referência em informações técnicas sobre fruticultura, inovando o jornalismo científico e a popularização da ciência desde 2002.
Além de ter sido o primeiro professor de fruticultura da UNESP (com atenção especial para a produção do mamão, da goiaba, da banana e do maracujá), o Prof Ruggiero foi o primeiro Pró-Reitor de Extensão da universidade (1989–1993). Sua gestão na pró-reitoria foi marcada pela definição das atividades de extensão e de sua importância na formação dos estudantes de graduação. Até hoje ele acredita que o mapeamento das necessidades dos produtores pode ajudar os alunos a definirem melhor as áreas que querem trabalhar. Afinal, são os agricultores que desenvolvem uma escuta diferente — uma escuta que não se faz com os ouvidos, mas com os olhos, com as mãos, com o tempo. Uma folha que se curva à luz do sol nos fala de orientação. Uma raiz que contorna uma pedra nos ensina sobre adaptação. Um broto que rompe a terra seca nos revela o poder da insistência.  Por meio de sinais, ritmos, ciclos, o agricultor que conhece sua terra entende quando a planta pede água, quando está doente, quando quer florir. Essa escuta, afinada pela prática e pela convivência, transforma a relação entre o humano e o vegetal num pacto de respeito. Afinal, as plantas não são seres passivos, mas agentes de seu próprio modo de existência.
Sai daquele encontro impactado com as ideias inovadoras do Prof Ruggiero. Vi em seus olhos que ele ainda nutre um sonho que queria me mostrar num desenho na folha de papel em frente às suas mãos. Talvez criar uma central de atendimento para mapear as necessidades dos produtores. Pois é, a extensão universitária da Unesp surgiu das mãos da fruticultura. Ao ver todo o trabalho necessário até uma fruta chegar à mesa, aprendemos a dar mais valor ao alimento e a quem o produz. Cada fruta carrega uma história de esforço, técnica e paixão.  “Sou o que ainda não foi”, dizia o brilho dos seus olhos. “Sou promessa. Carrego nos fios da coroa roxa o segredo antigo do tempo e do outono. Sou flor que se mostra sem medo, sou a flor de maracujá”. 

 

        

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