Hormônio intestinal que estimula a queima de gordura

Jair Rodrigues Garcia Júnior

Dentro de alguns anos, o medicamento sensação da atualidade, a eficiente tirzepatida (Mounjaro), poderá ser substituída por outra droga que também tem efeitos de hormônio do intestino e poderá ser ainda mais eficiente no controle do diabetes e da obesidade. Publicação recente de pesquisadores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), em importante revista científica americana de fisiologia, endocrinologia e metabolismo, demonstrou os efeitos desse hormônio intestinal na queima de gordura.

HIPOTÁLAMO
Essa estrutura do sistema nervoso central é o pivô central que recebe informações sobre consumo, armazenamento e uso de energia para regular a fome e saciedade, e disparar comandos para efetores diversos, em busca de manter o equilíbrio energético. Possui neurônios específicos orexígenos (disparam a fome) e anorexígenos (disparam a saciedade) que são ativados de acordo com o estado energético. Também pode provocar a termogênese, que significa acelerar o metabolismo, produzir calor e gastar a energia armazenada.

REGULADOR METABÓLICO
O hormônio que está recebendo destaque é o fator de crescimento de fibroblasto 19 (FGF-19), secretado pelo intestino delgado. Seus efeitos já haviam sido descritos como regulador de funções do fígado de produção de ácidos biliares, produção de glicose (gliconeogênese) e de gorduras (lipogênese). Portanto, tem importante papel regulando a digestão das gorduras (ácidos biliares) e o metabolismo.

FGF-19
Neste novo estudo, o FGF-19 foi administrado diretamente no cérebro de camundongos obesos para chegar até o hipotálamo. O efeito foi a ativação do sistema nervoso autônomo simpático (o mesmo que é ativado durante o exercício físico e situações de estresse psicológico) que, por sua vez, estimulou a atividade de termogênese no tecido adiposo. Os adipócitos, as células que armazenam a gordura, passaram a utilizar essa molécula para produção de energia e calor, diminuindo o estoque.

A ligação do FGF-19 no hipotálamo ativou o sistema nervoso simpático, reduzindo o consumo alimentar e aumentando o gasto de energia

TECIDO ADIPOSO MARROM
O tecido adiposo branco é o mais conhecido por ser o local de armazenamento da gordura. Tem pouca atividade metabólica no sentido de gasto de energia. Porém, em alguns casos, os estímulos de hormônios e do sistema nervoso podem fazê-lo mudar algumas características, tornando-o “bege”, com mais capilares, mitocôndrias e algumas proteínas que aumento do gasto de energia e produção de calor. Essas são característica do tecido adiposo marrom, que armazena pouca gordura e tem atividade metabólica intensa, sendo bastante significativa em roedores, mas não tanto em humanos, nos quais a quantidade total no corpo é de menos de 100g.

CONTROLE METABÓLICO
A ligação do FGF-19 no hipotálamo teve efeito de ativar o sistema nervoso autônomo simpático, reduzindo o consumo alimentar, aumentando o gasto de energia (estímulo no tecido adiposo), diminuindo o peso corporal e a inflamação sistêmica, e melhorando o controle da glicemia pela insulina. Esses efeitos parecem ir além daqueles provocados pelos outros hormônios intestinais GLP-1 e GIP (incretinas) que têm sido mimetizados pela tirzepatida (Mounjaro).

EXERCÍCIO E DIETA 
A regulação do peso corporal depende do controle rigoroso do consumo e gasto calórico. Certamente, há fatores que influenciam estes dois comportamentos fisiológicos. Semaglutida e tirzepatida têm sido armas eficientes para controlar o consumo alimentar (inibe a fome) e a glicemia (estimula a secreção de insulina). Porém, condições como o exercício físico e a secreção natural de miocinas pelos músculos, ou drogas que ativam mecanismos de gasto energético pelo tecido adiposo (termogênese) podem ser ainda mais eficientes e trazer melhores perspectivas de controle da obesidade.

Referências

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