Em um boteco de Cotia, um garoto crescia entre balcões e garrafas de cachaça. Anos depois, essa infância se transformou em um impressionante acervo com mais de 1.300 exemplares da bebida, que agora dão vida ao Museu da Cachaça em Martinópolis. O criador, Leonardo Sanches, dono do Pão com Linguiça, onde está instalado o acervo histórico de cachaça, conta que a paixão nasceu da rotina de trabalho ao lado de seu pai e seu tio, proprietários de um bar que sustentou a família.
O pontapé inicial da coleção não foi um plano, mas uma herança afetiva. "A cachaça pagou nossos estudos, nos criou", diz Leonardo, com a voz embargada de emoção. Ele mostra com orgulho a garrafa mais antiga, uma 51 com 49 anos, guardada pela família desde a época do bar. A partir daí, o que era uma lembrança se tornou um hábito: adquirir ao menos uma garrafa por mês, de marcas que ele ainda não tinha.
Garimpo, raridades e a regra do colecionador
Para manter a coleção sempre atualizada, Leonardo se dedica a um verdadeiro trabalho de garimpo. Ele visita bares antigos, mercados em capitais como São Paulo e Belo Horizonte, e conta com a ajuda de amigos que viajam e sempre trazem uma garrafa de presente. Entre as preciosidades, ele destaca rótulos que já não existem mais, como a Tatuzinho, a Três Fazendas, a Oncinha, a Pedra 90 e a Telecoteco. E para quem se pergunta se ele tem vontade de abrir alguma garrafa, a resposta é simples: "Abro, mas somente quando tenho dois exemplares". A regra do colecionador é clara: uma para guardar e outra para degustar, uma forma de honrar a história e o sabor da bebida.
Do balcão à degustação: o museu aberto ao público
A paixão de Leonardo agora pode ser compartilhada. Aos finais de semana, ele recebe visitantes no restaurante Laranja Doce Pão com Linguiça para um tour pelo museu. Antes de ver de perto os quase 50 anos de história engarrafados, os curiosos são convidados para uma degustação e uma conversa sobre a história da cachaça, celebrando a bebida que, para Leonardo, é a própria história de sua família.