O futebol é, sem dúvida, uma das maiores paixões do brasileiro. Seja nas arquibancadas ou dentro das quatro linhas, a emoção que o esporte proporciona é incomparável. Mas quando o espetáculo coloca vidas em risco por falhas básicas de segurança, o que era para ser celebração se transforma em alerta.
No sábado, durante a partida entre Linense e Grêmio Prudente, válida pela 7ª rodada do Campeonato Paulista Sub-15, uma situação grave escancarou uma realidade inaceitável: a falta de estrutura adequada para atendimento médico em eventos esportivos, mesmo organizados por federações oficiais. O jogo, realizado no Estádio Gilberto Siqueira Lopes, em Lins, foi paralisado por 36 minutos após o jovem João Morato, camisa 6 do Grêmio Prudente, apresentar sintomas de broncoespasmo. O problema se agravou com a ausência de equipamentos mínimos na ambulância disponível no local, impossibilitando o atendimento imediato.
A Federação Paulista de Futebol reagiu com uma nota oficial afastando preventivamente o diretor da partida, Sérgio Eduardo de Moura, e determinando a apuração dos fatos pelo TJD-SP. A atitude, embora necessária, precisa ir além da formalidade e resultar em mudanças reais nos protocolos e fiscalização.
Não é aceitável que, em pleno século 21, uma competição oficial, ainda mais envolvendo adolescentes, não conte com estrutura médica eficiente e pronta para agir em emergências. O futebol não pode continuar sendo jogado à mercê da sorte quando se trata de saúde. A presença de uma ambulância no estádio não pode ser apenas simbólica: ela deve estar equipada, com profissionais capacitados e prontos para atuar. É o mínimo.
O episódio em Lins não é isolado. Casos semelhantes, infelizmente, se acumulam no histórico recente do futebol brasileiro, em especial nas categorias de base e divisões inferiores, onde a visibilidade é menor, mas os riscos são igualmente reais. E quando se trata de crianças e adolescentes, a responsabilidade é ainda maior. Pais, treinadores e torcedores confiam que, ao entrarem em campo, esses jovens estarão protegidos por uma estrutura profissional.
O futebol, como qualquer outro espetáculo, precisa garantir segurança total para seus participantes. Não apenas pela preservação da integridade física, mas pelo respeito ao ser humano. É preciso que dirigentes, clubes e federações entendam, de uma vez por todas, que não há resultado, rivalidade ou paixão que justifique negligência com a vida.
Que o episódio sirva como ponto de virada. Que os erros se transformem em aprendizado e que os protocolos sejam revistos com urgência. Afinal, nenhuma taça vale mais que uma vida.