“Não seja um robô enferrujado, mexa-se, atualize-se”

Emerson Silas Dória, coordenador da FIPP

Personagem - OSLAINE SILVA

Data 22/04/2021
Horário 04:15
Foto: Cedida
Emerson: "O que precisa? As pessoas estarem predispostas a estudar"
Emerson: "O que precisa? As pessoas estarem predispostas a estudar"

Você já pensou grande? Em se formar num curso superior que já vem numa crescente quando o assunto é empregabilidade e falta de profissional qualificado para atender a demanda do mercado? Não? Gosta de estar sempre atualizado em tudo, principalmente em se tratando de tecnologia? Então, precisa ler esta entrevista com o professor universitário e coordenador pedagógico de cursos de graduação e pós-graduação em computação e informática da Fipp (Faculdade de Informática de Presidente Prudente) da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), Emerson Silas Dória.

Em que segmento da TI há o maior nível de empregabilidade hoje? Desenvolvedoras de aplicativos estão no topo, por exemplo?
As desenvolvedoras de aplicativos tiveram um aumento sim, mas outras áreas também demandam hoje de diversos profissionais. A área de supermercados, por exemplo, está bombando hoje, principalmente nas cidades que tiveram lockdowns. Porque algumas empresas nunca imaginaram que passariam por uma situação de ter que fechar fisicamente. Então, tem muita empresa querendo consumir e-commerce e precisa de gente para construir isso. E quem são essas pessoas? São os profissionais de tecnologia da informação que se formaram em Ciências da Computação, Sistema de Informação, Sistema para a Internet, Redes de Computadores, Jogos Digitais, Análise de Desenvolvimento e Sistemas, Engenharia de Softwares. Só que o que vem acontecendo nos últimos anos é que a procura pela área no geral tem diminuído. 

A pandemia fez a procura por profissionais de TI aumentar?
Do meu ponto de vista como coordenador de ensino da FIIPP (Faculdade de Informática) da Unoeste, em que temos um contato grande com as empresas de Presidente Prudente e região por conta da universidade, a procura por profissionais da nossa área sempre foi muito grande. Acentuou na pandemia? Talvez. Mas, nossa área vem crescendo muito ao logo desses últimos anos. E talvez um fator decisivo para isso tenha sido a popularização dos smartphones, telefones, computadores, que levaram o cidadão comum a uma série de serviços que dependem hoje. Boa parte das nossas atividades diárias, a gente consegue perceber o uso desse recursos tecnológicos, e aí vem a palavra TI (Tecnologia da Informação), que é desde um aluno assistir a uma aula, a uma pessoa pedir uma comida para ser entregue em casa, alguém fazer um pagamento de uma conta. Isso é uma coisa que evoluiu muito ao longo dos últimos anos. Todas as pessoas estão buscando muitos serviços que envolvem a tecnologia da informação. E daí vem uma necessidade cada vez maior de profissionais para atender essas áreas. 

Houve uma grande mudança tecnológica na vida das pessoas com a pandemia, certo?
Então, hoje a gente se comunica com as pessoas através de e-mail, videochamada, temos os nossos depositórios na nuvem para guardar fotos, que era coisa que ficava na máquina, no filme, acesso a conteúdos, a aulas, a documentos bancários. Então, todos esses fenômenos não estão atrelados única e exclusivamente à pandemia. Esse é o horizonte que eu vejo, tá? O que aconteceu com a pandemia? Acentuou. E principalmente o segmento educacional, porque os alunos não indo à escola estão demandando tudo quanto é recurso, o meeting, o zoom, o teams, esses produtos já existem há muito tempo, mas o percentual de pessoas que utilizava era pequeno em suas reuniões, alguma conferência. A maioria das coisas era presencial, as pessoas que tinham uma reunião em São Paulo, por exemplo, pegavam o avião, iam e voltavam. Era algo meio comum. A pandemia trouxe muitas reflexões nesse sentido, de tentar mudar esse comportamento, e, com isso, que já vem de tempo, o consumo de profissionais de tecnologia da informação é muito grande. 

Por que as pessoas não estão buscando a formação superior, se graduar em cursos de TI?
Tenho percebido que as pessoas procuram um pouco mais de facilidade nesse processo de aprendizado. Porque ir para uma escola, para uma faculdade, fazer um curso superior, se especializar naquele assunto as pessoas não querem. Elas estão buscando isso na internet mesmo. Cursos rápidos, online, e procuram através destes se qualificar. Só que é uma área muito difícil, que demanda muito conhecimento, muito estudo. Muitas vezes, eu entendo que esse volume de vagas que tem não é preenchido por dois motivos: primeiro porque a gente não forma tanta gente assim. A proporção do Censo do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) da quantidade de pessoas que entram nesses cursos e quantas se formam mostra que a previsão é de que, nos próximos cinco, 10 anos, a defasagem seja cada vez maior. O que precisa? As pessoas estarem predispostas a estudar. 

Então essa empregabilidade já vem se mantendo em alta há alguns anos?
Eu sempre questionei muito, é um posicionamento de ordem pessoal, as empresas reclamam que está em falta de profissionais e tal, não é só a falta, mas também não temos pessoas qualificadas para acessar essas vagas. Uma particularidade nossa, da faculdade, é que alunos nossos do 6º, 7º, 8º termos, que são os períodos finais, estão todos trabalhando. Semanalmente divulgo um volume de vagas muito grande. A empregabilidade está sim em alta. Já vem se mantendo assim e com a pandemia talvez tenha dado um upgrade. Talvez olhando um pouco do ponto de vista dos empresários, aí posso falar um pouco mais, pois atuo na universidade, tenho minha atividade profissional lá, sou hoje presidente da diretoria 2021/2022 da Associação das Empresas Produtoras de Softwares do Oeste Paulista, uma associação que cuida de quase 30 empresas, que gera as ações chamadas APL (arranjo produtivo local) de software. Prudente se caracterizou há alguns anos atrás pela existência de um número elevado de empresas, e olhando esse lado delas, que relatam para mim, enquanto docente da Unoeste, que precisam de gente, o que eu digo é isso, que, infelizmente, não temos gente para ofertar para essas vagas. Precisaríamos ter muito mais gente entrando para estes cursos para que pudéssemos pensar a longo prazo a atender a demanda dessas empresas.

Qual deve ser o perfil do profissional que deseja atuar neste ramo?
Essa é uma preocupação que a gente sempre teve. A característica do profissional da área é de uma pessoa que gosta muito de se atualizar. O nível de exigência de um profissional desse é muito grande. A informação com que ele lida está em constante mudança. Diariamente, surge algo novo na parte de tecnologia. Um equipamento novo. Uma forma nova de interação humana. Agora, estamos falando de inteligência artificial para tudo quanto é coisa. Hoje temos robôs nos ligando. Temos a alta disponibilidade de aplicativos para tudo, desde serviços governamentais até de saúde. Hoje temos robôs respondendo por problemas de saúde, você tira uma foto de um câncer de pele e o algoritmo consegue predefinir se aquilo é benigno ou não. Então, assim, essa loucura de expansão da área demanda uma característica que eu não sei se todas as pessoas têm, que é essa predisposição para estudar sempre. Então, é algo que se o profissional nosso ficar um ou dois anos fora do mercado ou for estudar outra coisa, quando ele volta, tem dificuldade de se manter, porque é algo muito difícil. 

Esse “novo normal”, que para alguns profissionais da área de TI e empresários também já era comum, deve continuar?
A pandemia trouxe para esse empresariado a seguinte situação. Todo mundo trabalhava fisicamente no mesmo local. A pandemia fez com que as empresas se reorganizassem, sendo que algumas já estavam trabalhando em sistema de home office fazia tempo. Em Prudente mesmo tem empresas de São Paulo que já tinham alunos nossos que trabalhavam remotamente. Ou seja, para alguns já era rotina. A pandemia só intensificou, porque foi de uma questão de opção para necessidade. Muitas empresas hoje, pelo menos do nosso setor, posso falar com tranquilidade, não retornam para o modelo presencial, continuam remotamente, porque entenderam que dá para tocar. Algumas estão em regime misto, com funcionários fazendo rodízio presencial. Ao mesmo tempo que isso é novo, mas que muitos jovens já estavam acostumados, veja bem, bem antes da pandemia eu tive alunos que trabalhavam remotamente em empresas de fora há muito tempo. 

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