“O agro está no sangue”,  diz produtora, exemplo de sucessão familiar 

Cristiano Machado

COLUNA - Cristiano Machado

Data 10/11/2022
Horário 07:08
Foto: Faesp/Senar-SP
- Família Rocha possui diversas áreas, algumas arrendadas, totalizando cerca de 950 hectares
- Família Rocha possui diversas áreas, algumas arrendadas, totalizando cerca de 950 hectares

Mudanças implicam assumir riscos. Mas os desafios não afugentam a jovem produtora, Lucy Mara Rocha de Souza. Pelo contrário, são um verdadeiro estímulo. Foi assim que ela migrou da carreira de enfermagem, na qual já atuava como coordenadora, para auxiliar o pai, Luiz Rocha, no gerenciamento do sítio Agro L Rocha, destacado produtor de batata-doce em Pirapozinho, na região de Presidente Prudente, há 30 anos.
Desde o envolvimento de Lucy, em 2016, a colheita dobrou, atingindo hoje a marca de 180 hectares / ano. Além disso, eles estabeleceram parceria com uma cervejaria da região e lançaram a L Rocha, primeira cerveja de batata-doce registrada no Brasil. “O agro está no sangue. E quando faço algo, entro de corpo e alma”, define ela.
A agricultora representa o universo de 34% de mulheres que ocupam cargos de liderança em fazendas, segundo dados de 2021 da Fundação Getúlio Vargas. Um patamar inédito, que deve continuar acelerando nas próximas safras. Muitas filhas de produtores estão percorrendo o caminho da sucessão familiar, como Lucy, propiciando uma saudável troca de expertise com os pais e contribuindo para a modernização do negócio. “Comecei a ir para a lavoura com meu pai, e a perceber que poderíamos melhorar”, conta.
Uma das primeiras sugestões da filha foi diversificar a produção, pois ela começou a estudar o produto e percebeu que havia condições favoráveis para outras opções. “Ele foi um pouco resistente no início, mas topou. Plantamos apenas uma rua, no começo. Mas deu tão certo e hoje temos quatro variedades: polpa branca, laranja, roxa e creme”. Atenta às demandas do mercado, Lucy é responsável pelas inovações e pelo marketing, mas também pelas compras de insumos e da parte financeira.

“Aprendi muito com eles e hoje posso ensiná-los”

Como fonte de conhecimento e reciclagem, os cursos do Senar-SP (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) fazem parte da agenda da empreendedora, principalmente aqueles voltados à gestão do negócio. Além de receber a instrução, ela faz questão de compartilhar as informações com os funcionários, sempre que possível. “Eles precisam de treinamento, precisam ser valorizados. Aprendi muito com eles e hoje posso ensiná-los. Quando percebo alguma resistência à mudança, eu explico que hoje temos novas técnicas, que nos ajudam a avançar”, diz.
No final de 2017, Luiz e outros produtores planejaram um evento para divulgar a batata-doce, mas as pretensões eram tímidas. A participação de Lucy foi fundamental para ampliar os horizontes e, do projeto inicial, saltaram para a organização de uma feira do setor. Em 2018, aconteceu a primeira edição da Batatec – Feira Tecnológica da Batata Doce, em Presidente Prudente, com o apoio de entidades como a Emprapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Unesp (Universidade Estadual Paulista) “Júlio de Mesquita Filho”), Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). Fruto da iniciativa, surgiu a Associação de Produtores de Batata-Doce, da qual Lucy é uma das articuladoras.
O evento superou – e muito – a expectativa dos organizadores. No primeiro ano, a feira atraiu 7 mil pessoas; no segundo ano, eles esperavam 15 mil, mas participaram 32 mil pessoas e, em 2022, o público chegou a 55 mil. “Mesmo em 2020, ano da pandemia, em 30 dias eu organizei um dia de campo virtual na nossa propriedade, com apoio de várias empresas, e também foi um sucesso”, festeja Lucy.

História que começou a ser escrita pelos 
avós está chegando cada vez mais longe

A ideia da bebida de batata-doce surgiu durante os preparativos para a primeira edição do evento, em 2018. Todas as empresas envolvidas na alimentação foram orientadas a desenvolver cardápios destacando o produto na culinária regional. “Por que não uma cerveja de batata-doce?”, indagou Luiz Rocha, lançando o desafio para uma empresa local. Assim nasceu a primeira cerveja de batata-doce branca do país.
Novamente, Lucy conseguiu melhorar o que já era bom. Dois anos depois, ela teve a ideia de propor à mesma empresa a fabricação de cervejas com outros tipos do produto: roxa e laranja. “São três tipos, com características bem diferentes, de aroma e dulçor. Uma é mais leve, outra mais encorpada, de acordo com as características do próprio fruto”, cita a idealizadora. As cervejas L Rocha estão conquistando cada vez mais consumidores. No ano passado, segundo ela, foram comercializadas cerca de 5 mil unidades, e, em outubro deste ano, este número já havia sido superado.
A família Rocha possui diversas áreas, algumas arrendadas, totalizando cerca de 950 hectares. “Desde 2016, quando meu pai comprou algumas cabeças de gado, fazemos a integração lavoura / pecuária”, explica a agricultora. Em uma das propriedades, a família consorcia gado, batata-doce, soja e milho. O pai cuida do campo mais diretamente, ao lado da esposa, Mara; a filha Lucy fica de olho nas demandas do mercado; e a filha Fernanda é veterinária e cuida do rebanho, incluindo as técnicas de inseminação artificial.
A história que começou a ser escrita pelos avós de Lucy, pioneiros na propriedade, está chegando cada vez mais longe. A depender do empreendedorismo dela, há muito ainda por conquistar. “Quando eu comecei neste segmento, eu era a filha do Luiz Rocha, que já era referência em batata-doce. Hoje, já sou reconhecida como a produtora Lucy Rocha”, orgulha-se a jovem proprietária, referência no agronegócio da região. (Da Faesp/Senar-SP)
 

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