Ó o auê aí ó!

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 26/07/2020
Horário 05:09

O Brasil anda tão em baixa, que é de dar dó. Não bastasse o reino do futebol perder o protagonismo mundial para novas potências futebolísticas, por conta da interminável pandemia, nem mesmo a tradicional corrida de fórmula 1 de Interlagos será realizada esse ano, o que nunca ocorreu nos últimos 47 anos! Tantas situações adversas me fazem lembrar uma curiosa expressão do português falado no Brasil que, orgulhosamente, nos coloca em posição de destaque internacional por ser a única frase no mundo constituída apenas por vogais: Ó o auê aí ó! Bem, para quem precisa de uma tradução para o português corrente, é o mesmo que dizer “Vamos parar com essa baderna”?   
Para os alarmistas, não haveria vantagem nenhuma para o Brasil ter como destaque o que para eles seria uma “aberração linguística”. Muito pelo contrário, o destaque do Brasil nesse quesito estaria relacionado a um suposto processo de deterioração do português falado pelos brasileiros, porque distante de um modelo de correção gramatical considerado ideal. De fato, essa visão reforça o preconceito linguístico elitista e excludente da classe dominante brasileira em relação ao português falado pelas camadas populares. 
A língua não é um sistema fechado e imutável, mas em constante transformação por causa de influências históricas e regionais. Quando criança, eu empinava papagaio. E você? Empinava pipa? Curica? Raia? Quando aprendi a dirigir um automóvel, eu tinha de parar no semáforo vermelho. E você, tinha de parar no sinaleiro? Farol? Sinal? São inúmeras variantes linguísticas que poderíamos lembrar, seja do vocabulário para nomear os mesmos objetos em diferentes regiões do país, mas também interessantes mudanças de sintaxe, como a simplificação da concordância verbal e nominal. 
Há uma tendência de encurtamento das frases no português falado pelos brasileiros, uma vez que o princípio fundamental da nossa língua é a comunicação, ainda mais que vivemos em um país de pouca leitura, onde o que predomina é a necessidade comunicativa da linguagem oral, que é muito rápida e efêmera. Um exemplo interessante é a transformação de uma expressão muito antiga, do tempo que cuzcuz era bolo de aniversário: “vamos em boa hora”!  Acompanhe a evolução desta frase. Vamos em boa hora. Vamos embora. Vambora. ”Bora”? Esse texto eu escrevi lembrando de antigas conversas com Edna-Maria-Janjão-dos-Pilão, e de meu amigo Jário-de-André-de-Lulu. Eles e eu, Raul-de-Pedro-de-Raul-de-Caetité, preferimos quem escreve “pobrema” do que quem cria! Crendeuspai! 
 

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