“Se eu pudesse voltar atrás, optaria pela mesma vocação”

IRMÃ PENHA, diretora da Creche Walter Figueiredo

PRUDENTE - DA REDAÇÃO

Data 07/02/2021
Horário 09:25
Foto: Cedida
Irmã Penha: . Diretora pedagógica da Creche Walter Figueiredo em Presidente Prudente
Irmã Penha: . Diretora pedagógica da Creche Walter Figueiredo em Presidente Prudente

Religiosa pela Congregação das Irmãs Franciscanas do Coração de Jesus, Irmã Maria da Penha de Barros, é natural de Mirante do Paranapanema, onde nasceu em 14 de julho de 1961. É filha de Ângelo Lucas de Barros e Marie Emília Barros. Ela tem mais cinco irmãos, três mulheres e dois homens. Diretora pedagógica da Creche Walter Figueiredo em Presidente Prudente, é formada em Pedagogia e se especializou em Administração Escolar.


Como surgiu sua vocação?
Minha vocação foi alicerçada por valores morais e religiosos, com muita fé e respeito. Eu aprendi cedo a viver em favor dos meus irmãos e irmãs, em casa, ou tentando ajudar os mais necessitados e excluídos. Aos 12 anos, após uma forte oração, eu fixei o olhar em uma imagem de Cristo e decidi: vou ser freira! Aos 18 anos, faltando apenas 30 dias  para meu casamento, renunciei tudo para me dedicar plenamente a Deus, na Vida Consagrada. Entrei na Congregação das Irmãs Franciscanas do Coração de Jesus em 21/02/1983, em Jaguapitã [PR]. Mas foi em Curitiba que professei meus votos temporários em 1988 e os votos perpétuos em 1993. Me formei em pedagogia na UEL (Universidade Estadual de Londrina) e me especializei em Administração Escolar pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Paraná, em Curitiba.

O que é ser uma religiosa?
Primeiramente é dedicar a sua vida a Deus, por meio da oração, do trabalho em prol aos irmãos e irmãs, sobretudo aos mais necessitados (as). No meu caso, minha vida vocacional já começou na educação para crianças, minha primeira missão, em Jaguapitã, foi ser diretora da escola da Divina Providência, onde fiquei por 20 anos. Eu só agradeço pelo povo de Jaguapitã e a Deus, que me permitiu esse período de grande aprendizado quando também pude colaborar nas pastorais da paróquia e atendendo aos menos favorecidos, muitos deles familiares das crianças que estudavam a escola. E até hoje é assim: um pelo outro, pois somos todos filhos e filhas de Deus.

A senhora se sente realizada no que faz?
Muito. Totalmente. Se eu pudesse voltar atrás, optaria pela mesma vocação. Amo ser consagrada.

A senhora tem algum hobby? Como ocupa seu tempo?
Sim. Sou uma pessoa igual às outras. Sempre que posso faço caminhadas, ando de bicicleta, gosto muito de nadar, assistir bons filmes e ler bons livros. Com a creche fechada, nessa pandemia pude ter mais tempo para essas atividades de que gosto.

Deixou de fazer alguma coisa que gosta porque ingressou na vida religiosa?
Não. De forma nenhuma. Sou bem resolvida nesse sentido e procuro conciliar bem. Eu sou hiperativa, sempre fui. Faço muitas coisas durante o dia, ando rápido, falo rápido, atendo muita gente, resolvo problemas, sempre tento buscas soluções. Peço ajuda, quando preciso. E recebi o apoio e o retorno, até em forma de trabalho voluntario, de um exército de irmãos e irmãs da comunidade. Isso é uma benção. Juntos somos mais fortes. Conseguimos melhorar uma situação, ajudar alguém. Deus é conosco! E isso me anima demais. Mesmo depois de um dia muito difícil, posso caminhar e renovar as forças para o amanhã, para mais 24 horas de vida e trabalho.

Como é a rotina de uma freira na pandemia? 
A creche precisou sobreviver sem a presença, a alegria e a beleza dos alunos. As crianças enchem cada centímetro do prédio. E para garantir a continuidade do nosso trabalho tivemos que dar um jeito e realizar eventos também sem a permanência das pessoas. Fizemos a galinhada, yakisoba, pizza no sistema de pague - leve, com as pessoas nos carros só passando para retirara sua marmita. Assim também foi o arroz carreteiro. Mas aquela tradicional festa junina, de parar o quarteirão todo na frente da creche não pudemos fazer. A limpeza, manutenção da C.E.I, os estudos como nos preparamos para as volta das aulas presencias ocupa nossa rotina mas a  falta da presença das crianças numa creche é um grande vazio. Nossas responsabilidades, num mundo bem diferente mas temos que tocar o barco e deixar tudo pronto para receber as crianças de volta. Por outro lado, eu pude ter mais tempo com a minha família comunitária. Consegui me dedicar mais às orações e ao meu cultivo pessoal.

O que a pandemia mudou em sua vida?
Realmente um processo de conversão, que também me lança a repensar as relações conosco, com o mundo e com o planeta, mais responsáveis e, entre nós, mais generosas, mais gratuitas, com maior responsabilidade. O convite é repensar os seres humanos que estamos sendo.

Como a senhora vê toda essa situação que estamos vivendo?
Vejo como esse momento está levando a humanidade e também a vida religiosa a refletir "repensar estilos de vida, hábitos" e "relações conosco, com o mundo e com o planeta. Estamos aprendendo muito e não tenho dúvidas, sairemos melhores depois de tudo que estamos vivendo. Essa crise revelou que nosso modo de viver, de nos relacionarmos com a terra, até agora gerou crises. Algo bom pode emergir da crise, e isso está se tornando uma oportunidade para todos nós nos fortalecermos para o trabalho comum, de outras maneiras para estabelecer solidariedade, comunidade e até comunicação. Muitas coisas foram reconsideradas, nossos ritos, a maneira de considerar o diálogo com coisas que consideramos vitais, tudo foi reconsiderada por essa pandemia. O ritmo de nossas agendas, a maneira como fazíamos nossas reuniões, as viagens que fazíamos.

Como surgiu o convite para trabalhar na Creche Walter Figueiredo?
Então. Depois de 20 anos como diretora da escola da Divina Providência me Jaguapitã, em janeiro de 2015, fui convidada a assumir a direção pedagógica do C.E.I Walter Figueiredo. Foi a oportunidade de continuar a minha missão religiosa e meu trabalho agora é aqui em Prudente, bem ao lado do famoso Ginásio de Esportes da cidade, o maior de toda a região a sede da 1ª Região Administrativa do estado de São Paulo. Eu acertei mudar para cá e hoje me sinto de coração uma prudentina. 

Conte um pouco de sua vida religiosa e o trabalho que exerce frente à creche Walter Figueiredo?
Logo que cheguei, a creche já precisava de uma reforma para melhor atender as crianças. Graças a parceria com a nossa Diretoria, fortalecida por voluntários (as) de todas as áreas e por toda a comunidade prudentina, conseguimos melhorar toda a estrutura. Doações, trabalhos, eventos, união e muita perseverança, sem esmorecer, nos impulsionaram, junto à fé em Deus. Antes da pandemia, 240 crianças até 4 anos eram atendidas na WF, em período integral, num espaço maravilhoso e que favorece todos os pilares da educação humana. Social e religiosa, capaz de formar personalidades sadias, responsáveis e empreendedoras.  Cidadãos capazes e conscientes, que poderão honrar a nossa cidade e o nosso Brasil.

Quais são os desafios frente à instituição?
A causa é nobre, mas boas intenções não são suficientes para realizar nossa missão, capaz de produzir benefícios sociais efetivos e de forma sustentável. Captar recursos para realizar os projetos. 

Deixe uma mensagem aos jovens que buscam suas vocações.
Leiam a palavra de Deus, onde poderão encontrar a verdade, a paz e a felicidade, a alegria de viver plenamente, com motivação. Faça o bem e busque meios de realizar o seu encontro pessoal com Deus. Não importa qual vocação você quer seguir, qual a profissão que quer se dedicar entregue tudo a Deus, tudo que te causa insegurança, deixe o Salvador do mundo, Aquele que sustenta a Terra e dirige o universo guiar a sua vida, em tudo. Pergunte e Ele te responderá. Como ensinou nosso pai São Francisco de Assis, seja instrumento de paz para seu irmão e sua irmã nesta vida. Promova a paz e leve a paz com você em tudo, nas suas palavras, nos pensamentos, nos atos e nas realizações. Assim o mundo de todos (as) será melhor e mais justo.

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