“Sempre prezamos muito pela exatidão e pela transparência, e isso é um legado importante”

Personagem - THIAGO MORELLO

Data 27/12/2020
Horário 04:30
Foto: Weverson Nascimento

No dia 2 de outubro de 2016, foi confirmada a história política entre o atual prefeito de Presidente Prudente, Nelson Roberto Bugalho (PSDB), e a cidade. Naquela ocasião, 33.209 votos, o equivalente a 29,46% dos válidos, o colocaram na posição de futuro chefe do Executivo prudentino. Hoje, após vitórias, derrotas, falhas, cobranças e conquistas, ele se despede da cadeira que ocupou durante os últimos quatro anos. Ao jornal O Imparcial, o gestor, que também é promotor de Justiça, fez uma avaliação da gestão Bugalho, falou dos desafios de ocupar tal função, bem como dos projetos realizados, as pendências e o que espera do sucessor. Confira:

 

O Imparcial: No dia 31 de dezembro, o senhor encerra seu trabalho à frente do Executivo de Presidente Prudente. Que avaliação faz do seu governo?

Peguei um período extremamente complicado do ponto de vista econômico. Nós já assumimos a gestão pública num período de crise, que veio se prolongando e se agravando, com o ápice dela em 2020, em meio à pandemia. Então, esse período todo foi economicamente complicado e politicamente conturbado. E a política local também, de forma que compromete realizar aquilo que você pretendia realizar. Ao longo desses anos, nós fizemos algumas tentativas de melhorar a arrecadação do município, promovendo, por exemplo, uma proposta de realizar uma justiça fiscal, que seria uma revisão da planta genérica de valores, e com isso haveria um incremento na arrecadação do município. A Câmara rejeitou. Nós temos outras questões que a Câmara rejeitou também, que seria a diminuição do valor que é pago pelas requisições de pequeno valor, que hoje é algo entorno de R$ 30 mil, enquanto que na União e no Estado é algo entre R$ 10 mil. Então, ao longo desse tempo, nós fomos lidando com situações que foram originadas lá no passado, e isso acaba impedindo a realização de investimento de infraestrutura na cidade. Apesar disso, a gente conseguiu fazer bastante investimento na área da saúde, por exemplo. Nós inauguramos a UPA [Unidade de Pronto Atendimento] Zona Norte, com todo o material que opera adquirido no nosso governo. Praticamente renovamos a frota de ambulância da Secretaria da Saúde. Criamos a Fundação Inova Prudente, que é um dos legados mais importantes, uma vez que está mudando o perfil econômico da cidade. Então, isso é muito importante para a nossa cidade. Criamos também o Inova Kids. Enfim, é uma avaliação positiva, em tempos conturbados. Claro que ainda temos muitas obras que estão em andamento, que eu não vou conseguir entregar, mas o meu sucessor, no primeiro semestre do próximo ano, fará entregas importantes para a nossa cidade. Como por exemplo, o Shopping Popular, o Atende Prudente, o Bom Prato - que não está na dependência do município, mas sim do Estado -, as obras de mobilidade urbana que eu consegui recursos com o governador João Doria [PSDB], o recapeamento de ruas do Jardim Monte Alto [que já está aprovado], enfim, estamos deixando algumas obras em andamento, e outras que serão iniciadas nos próximos dias, que serão muito úteis para Prudente. Não houve tempo hábil de concluí-las, evidentemente, por várias razões, mas o dinheiro existe. Temos muitos recursos que estão vinculados a determinadas obras, que foram todos conquistas do meu governo. Tivemos também uma melhora do Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] na área da educação. É claro que tivemos algumas falhas, evidentemente não existe governo algum que não tenha cometido falhas. Mas na medida que elas iam se revelando, a gente procurava corrigi-las. Então, faço uma avaliação positiva. A cidade conseguiu manter e incrementar os serviços de saúde, educação e assistência social, que são muitos importantes. Na área de mobilidade urbana conseguimos ainda fazer a licitação do transporte coletivo, que nunca tinha sido feito em Prudente. Não é o transporte ideal? Não é. Mas melhorou bastante. Nós criamos ainda o Almoxarifado Central, que ninguém dá valor para isso, mas é uma obra importante para a economia local do município. Nós também ao longo desses quatro anos melhoramos índices, como de desenvolvimento humano, de responsabilidade fiscal e de gestão municipal, sempre ficando nos primeiros lugares do Estado e do Brasil. Sempre prezamos muito pela exatidão e pela transparência, e isso é um legado importante. O próximo governo que vier ele tem que continuar caminhando nesse sentido, e eu espero que o faça.

 

O senhor já citou alguns trabalhos realizados ao longo dos quatros anos, mas, na sua opinião, quais as principais contribuições você acredita que deixa para Prudente, em termos de projetos e investimentos?

Eu acho que as principais contribuições foram a criação da Fundação Inova Prudente; a criação do programa Inova Kids, e isso é muito importante, porque você está preparando as crianças para um futuro com tecnologia; também conseguimos regularizar o Distrito Industrial Achiles Ligabo; a questão do próprio Camelódromo, que já mencionei, uma situação pendente em Presidente Prudente há muitos anos, pois nenhum gestor teve coragem de mexer, e a gente fez isso de uma forma correta; veio também pra melhorar, vindo de uma reclamação que já existia, mas só agora no final que a gente conseguiu implantar, que é o Aprova Prudente Digital, um sistema para agilizar a aprovação de projetos e abertura de empresas, por exemplo.

 

E quais dos investimentos anunciados o senhor mais lamenta não conseguir entregar até o fim de sua gestão?

O Camelódromo. O Centro da cidade, né, que é a reforma do quadrilátero central, porque eu sempre tive essa vontade de fazer essa contribuição para a nossa cidade. A reforma da Praça Dóbio Zaina. E o Atende Prudente. Aquilo que a gente estava focado, são obras muito importantes para a economia da nossa cidade, para aspectos paisagísticos e urbanísticos da cidade. Então, essas obras são importantes sob vários enfoques, sobretudo econômico e também urbanístico.

 

A sua gestão foi responsável por concretizar a licitação que consagrou a Prudente Urbano como vencedora. O senhor ficou satisfeito com o serviço de transporte público ofertado?

O serviço que a Prudente Urbano presta, quando comparado com o que existia na cidade antes, é muito superior, é muito melhor. É claro que ainda apresenta falhas, que precisam ser corrigidas ao longo do tempo. A empresa assumiu em 2018, se não me engano, então tem três anos operando na cidade, e ainda pegou um período difícil, que é o da pandemia. O número de usuários caiu drasticamente. Então, nós precisamos fazer uma avaliação de forma objetiva e não política. Objetivamente considerando todos esses aspectos, e eu ainda estou analisando os documentos que recebi da CPI [comissão parlamentar de inquérito], a situação não é tão simples. Isso não é uma mera decisão política: “olha, vamos romper”. Não, isso tem consequências. Existem contratos firmados. A cidade pode sofrer demandas judiciais por conta de alguma decisão equivocada, tomada precipitadamente, como hoje arca com vários problemas que são herdados por conta de decisões tomadas lá no passado, como a própria previdência do servidor público. Por isso é preciso ter muita cautela, senão isso pode gerar mais um passivo para a cidade, e quem paga a conta somos todos nós moradores de Prudente. É muito mais fácil, e melhor para mim, evidentemente, corrigir as falhas, e não simplesmente romper um contrato. Não é assim que se rompe um contrato, tem todo um processo que precisa ser observado, que inclui a possibilidade da empresa se defender. Não é uma decisão política, mas de gestão. A entrevista está sendo feita hoje [dia 11 de dezembro], então até por conta de feriados, é evidente que não vamos conseguir chegar a uma conclusão da recomendação da Câmara Municipal nessa gestão, até porque, como eu disse, isso implica na instauração de um processo administrativo com essa finalidade. Na verdade, é o próximo gestor que vai deliberar sobre isso. E o vice-prefeito eleito [Izaque Silva] foi o relator da CPI do Transporte Coletivo. Então, ele vai ter a oportunidade, na condição de gestor, de fazer uma análise numa outra perspectiva. Na posição de relator e vereador ele tomou uma decisão, agora vamos ver se como gestor é essa decisão que ele vai tomar.

 

O senhor termina a gestão adotando medidas de contenção de despesas, como o adiamento do reajuste no vale-alimentação. Como deve entregar os cofres públicos?

Nós estamos procurando deixar as contas públicas em dia. É claro que não vai ter sobra de recurso, porque hoje os municípios estão numa situação econômica muito complicada. Esse reajuste do tíquete-alimentação, se a gente chegar agora no final do ano e ver que há possibilidade, ainda pode ser feito. Mas nós temos um problema muito sério com relação a esse aspecto, por quê? Porque tem uma lei municipal que diz que esse reajuste deve ser feito a cada três meses, se não me engano, adotando um índice que não é adotado por ninguém, que é o IGP-M [Índice Geral de Preços do Mercado]. Então os aumentos vêm de uma forma expressiva, muito acima da inflação que é calculada. É preciso ter cuidado. Não foi possível nesse momento promover esse reajuste, mas nós sempre fizemos essas correções. Mas agora, mais de 10% no índice do IGP-M em três meses? Enquanto que a inflação do ano está projetada para pouco mais de 4% no ano inteiro? É um índice equivocado e que o poder público não suporta. Mas em relação a tudo, a gente já vem num sistema de contenção de despesas faz tempo, na verdade. É que agora apertamos mais ainda o cinto, justamente para entregar a Prefeitura para o próximo gestor não devendo nada. Por exemplo, os cargos comissionados, há meses que tenho mais de 15% dos cargos de confiança vagos. Uma outra parcela também, cerca de 15%, é ocupada por servidores efetivos. A gente sempre teve muita responsabilidade com essa questão. Agora você pensa bem, que gestor público, ainda buscando reeleição, trabalha com cargos comissionados vagos? Eu fiz isso. Eu não inflei a Prefeitura.

 

Esse ano ocorreu a tentativa de continuar trabalhando por mais quatro anos como prefeito. O que motivou a busca pela reeleição? E no que o senhor atribui a derrota?

Justamente por essas questões de finalizar aquilo que a gente havia começado, de continuar trabalhando pela cidade, cidade onde toda minha vida girou em torno. Na verdade, era para concluir esses trabalhos. Não só esses, mas também implantar outras medidas que não tive a oportunidade de implantar, por falta de tempo, recursos ou falta de apoio da Câmara Municipal. E a derrota é uma consequência da opção das pessoas. Nosso discurso foi defendo a transparência, a responsabilidade fiscal, e infelizmente não é isso que o povo quer ouvir. O povo deu ouvidos a outros discursos. Evidentemente que temos que respeitar a vontade da maioria, mas o prefeito eleito se elegeu com pouco mais de um terço dos votos da cidade. Foi o que ocorreu comigo também. É uma situação um pouco complicada, porque existem dois terços que não te apoiaram. Foi assim comigo e será assim com o próximo gestor. Espero que ele consiga, e ele vai ter mais facilidade, porque a Câmara hoje tem mais aliados do mesmo partido que o dele, muitos vinculados ao prefeito eleito. Então, acho que essas dificuldades ele não vai encontrar. Isso será um ponto muito positivo.

 

O senhor espera que o prefeito eleito, o deputado estadual Ed Thomas, dê continuidade aos seus projetos? E na sua opinião, quais destes trabalhos, iniciados em sua gestão, deveriam ser priorizados?

Olha, eu dei continuidade a trabalhos dos meus antecessores também. Acho que tem que dar continuidade àquilo que realmente se mostrou positivo para a cidade. Quando eu falo, por exemplo, da Fundação Inova Prudente, que transformamos uma escola de curtimento de couro, que não tinha mais nenhuma atividade nesse sentido, em uma fundação de educação, pesquisa e tecnologia. Isso é muito importante para a cidade e até para a região. Nós transformamos o Fundo Social, que era um fundo assistencialista, apenas. Transformamos em um espaço de capacitação das pessoas. Esse ano foi um ano atípico por causa da pandemia, mas até o início de 2020, nós tínhamos capacitado mais de 5 mil pessoas em vários cursos, como panificação, corte e costura e moda. São medidas importantes. O Atende Prudente, tem que dar continuidade, porque é um Poupatempo municipal que facilita a vida do contribuinte. Essas reformas que estão em andamento, como o Camelódromo. Na verdade, o Camelódromo nem reforma é, é um novo Camelódromo. Além do Almoxarifado Central e da Batatec, por exemplo, que também tem que dar continuidade. Essas obras são todas importantes para a cidade. E eu acredito que o deputado estadual Ed Thomas, que é uma pessoa que tem uma preocupação muito grande com o aspecto social, vai evidentemente dar continuidade a essas obras e medidas. E é claro, eu espero que ele consiga melhorar, assim como nós fizemos com o programa Cidadescola, por exemplo, criado pelo então prefeito [Milton Carlos de Mello] Tupã. Então, o sucessor tem que ir melhorando aquilo que já está implantado. Sempre é possível melhorar. Então, acredito sim que ele dará continuidade a programas, até porque em alguns deles ele teve a participação.

 

Quais os planos futuros do senhor, e neles consta a pretensão de voltar a um cargo político?

Eu reassumo as minhas funções de promotor de Justiça a partir do dia 1º de janeiro, formalmente. Reassumo em São Paulo, e lá eu ocupo um cargo que é o 16º promotor de Justiça da capital. Mas aí para onde eu vou trabalhar especificamente é uma decisão que cabe ao procurador-geral da Justiça, que é o chefe da instituição. Em relação a ocupar outro cargo de mandato eletivo, isso não passa pela minha cabeça nesse momento. Para prefeito, não mais. Para mim isso é uma página virada. O que eu quero agora é voltar para minha instituição, que é o Ministério Público, e depois verificar algum plano, se eu continuo na ativa ou se me aposento, porque eu já tenho até tempo para me aposentar.

 

Qual mensagem o senhor deixa ao povo prudentino?

Só queria registrar que ao longo desses quatro anos eu e minha equipe, sobretudo aqueles que permaneceram até agora, principalmente esses, a gente se dedicou muito para prestar um bom serviço para Prudente. Um sacrifício pessoal, um sacrifício emocional, um sacrifício financeiro, então, isso tudo foi feito. Ao longo desses anos eu nunca recebi um único centavo de salário da Prefeitura, poupei recurso da Prefeitura, pois quem paga meu salário é o Ministério Público. Mesmo assim eu ainda perdi financeiramente, porque quando eu estou licenciado do meu cargo há uma perda de alguns benefícios, como o próprio vale-alimentação. A única coisa que usava da Prefeitura era o meio de transporte. Então, eu fui um prefeito muito econômico para a cidade. O que foi gasto, foi gasto com muita responsabilidade, e de forma muito comedida. Só quero dizer que foi um trabalho que nos dedicamos muito à nossa cidade. O que eu tinha para oferecer era trabalho, e assim eu saio com uma sensação de dever cumprido.

 

Foto: Weverson Nascimento

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