#Sóquenão

Roberto Mancuzo

COLUNA - Roberto Mancuzo

Data 14/07/2020
Horário 06:00

A Covid-19 fez aumentar, e muito, a nossa presença na internet. Se quiser ficar assustado, veja no seu celular como o consumo diário aumentou. 
Sites, portais, redes sociais, plataformas de filmes e música e aplicativos tomaram espaço considerável de nossa vida física. Bom? Sim, mas é preciso usar ainda a hashtag: #sóquenão.
Em outras palavras, a sensação é que viver a vida só na internet é muito boa, mas a carruagem vira abóbora rapidamente. 
Por exemplo, uma simples passeada pelo Instagram ou pelo Pinterest te leva a uma sensação de que a vida ainda tem jeito. Quantas coisas são possíveis de se fazer! E sozinho! E sem gastar nada... Quer dizer, quase nada.
Que mágico poder saber falar de moda e estar naqueles desfiles super descolados; fazer reuniões perfeitas no Meet ou no Zoom; colocar, enfim, a vida financeira em ordem com as planilhas mágicas; encontrar finalmente um grande amor que eles dizem que é possível; ter três ou quatro amigos ou amigas “cabeças” para abrir uma discussão sobre qualquer coisa e isto rolar por horas; ter uma casa decorada do jeitinho que eles tentam ensinar; passar horas na cozinha experimentando ingredientes sacados, sabores exóticos e cheiros extasiantes; conseguir dobrar o corpo igualzinho aqueles lá da ioga ou pilates, enfim... 
O duro é que quando você cai de novo no mundo físico, vê que o seu forno ou sua panela não estão nem perto de proporcionar os pratos iguais ao do Jamie Oliver; por mais que queira, a cor laranja não ficou boa na sala; a conta bancária não está assim tão legal; as reuniões on-line são um fracasso; as marquinhas de celulite são bem mais reais e intensas; e por mais que tente, nunca vai conseguir reunir cabeças tão boas e abrir uma discussão legal. Espalmar a mão no chão com a perna esticada? Hahahaha! E se o exercício de pilates ficou fácil, é igual a vida: está errado! 
O que fazer, então, Mancuzo? A crônica de hoje é para nos colocar em colapso, com a certeza de que parte da nossa vida ficou monótona, sem gosto, está totalmente sedentária e fora de moda?
Bem, é exatamente o contrário. Eu tenho sorte de ter sido criado parte na vida analógica, nos anos 80 e 90, e parte na on-line, a partir dos anos 2000. Pessoas como eu possuem ferramentas mais eficazes para se livrar dos perigos digitais e o segredo nem é tão complexo.
Sempre será necessário buscar um equilíbrio. Penso que querer que a vida seja sempre igual ao imaginário da internet trará uma depressão bem real. Mas usar algumas ideias para pequenas vitórias pode trazer um pouco de paz. 
E assim, mesmo que o jardim não tenha ficado de cinema, o comedor de pássaros só traga pardais e pombinhas para perto de casa, a camiseta customizada enrugue demais e o bolo de fubá com erva-doce queime um pouco na borda, já terá valido a pena porque você se levantou, colocou a mão na massa, experimentou e inovou.
O isolamento social parece estar perto do fim e que tenhamos força para escapar também do isolamento digital que nós mesmos criamos. 

ps. Quem quiser sentir bem porque não acerta nada na cozinha durante a pandemia, acesse o perfil no Instagram @chefsnaquarentena. Você verá que tem muita gente pior.

 

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