Ética social requer cuidados sanitários e compaixão para com o próximo que grita, sofre e morre de Covid-19

Geral - DA REDAÇÃO

Data 27/12/2020
Horário 06:00

Nestes tempos de pandemia do coronavírus e suas várias consequências, a Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), tem trabalhado mais intensamente a ética social, dentro e fora de suas dependências, oferecendo orientações e prestando serviços de âmbito regional em Presidente Prudente, Jaú e Guarujá. As suas múltiplas ações são alicerçadas na ciência e em consonância com a fé em sua diversidade de crenças; com estímulo à compaixão para com o próximo que, em relação à Covid-19, grita, sofre e morre.
Também são respeitadas as normas, mas com o entendimento de que a regra moral escrita no coração de cada um representa a grande e necessária revolução para pensar o coletivo e renovar a esperança de um mundo melhor. É o que pensa o professor de ética do curso de Medicina, padre Dr. Thiago Calçado. Pensamento corroborado pelo coordenador do curso de Direito, Dr. Sérgio Ronchi, e pela diretora do curso de Psicologia, Dra. Regina Gioconda

O rosto do outro

Conforme Thiago, a norma jurídica é importante e tem que ser respeitada, mas em momentos como esse se sobressai a regra moral no sentido de atender aos apelos do outro, os quais demandam ações que requerem mudanças de atitudes. Explica que a ética social remete ao encontro com a alteridade, o encontro com o rosto do outro. Nesse sentido cita o filósofo francês Emmanuel Lévinas (1906-1995) para dizer que “é o rosto do outro que evoca em nós um sentimento ético”.
Para o padre e professor, nesses tempos de pandemia, esse rosto do outro está marcado pelo sofrimento, dor e morte. “Conforme a gente vai vendo o aumento de mortes causadas pelo coronavírus, mais esse outro nos inquieta e nos questiona”. Então, entende que pensar eticamente e se compadecer com a pessoa do outro em situação de sofrimento, requer pensar estratégias tanto no nível individual quanto no coletivo, para poder mitigar a dor do outro.

O principio magno

A política também é posta em evidência por Thiago, no sentido de que essa condição não se dissocia da ética, já que pensar eticamente é pensar políticas públicas e estratégias que possam promover o bem comum. “Dentre os princípios clássicos da ética, o bem comum é o princípio magno da política. Não existe política que de fato seja ética se deixar de lado a preocupação com o coletivo, que faça com que os interesses da população estejam acima dos interesses privados e particulares”, pontua.
“Nesse sentido, pensar eticamente significa promover atitudes que deixem de satisfazer apenas as nossas vontades de prazeres individuais momentâneos, para pensar em uma circunscrição superior, muito maior. Por isso, diante de um cenário tão triste como esse, fica o questionamento sobre até que ponto a minha atitude individual, nesse momento, colabora para o bem comum ou não”, questiona para falar sobre os cuidados sanitários em tempos de pandemia.

O olhar para as atitudes

“Como todos cientistas têm falado e como já é praxe na medicina, há muitos séculos as doenças virais demandam uma preocupação nossa com o distanciamento social, com o uso da máscara, com a higiene adequada das mãos e, claro, a preocupação com os mais vulneráveis. Pensar e agir eticamente significa olhar para as minhas atitudes e saber se elas estão de fato corroborando para esse distanciamento e na preocupação com os mais vulneráveis”, questiona Thiago.
Então, o aconselhamento é para, além dos cuidados sanitários, evitar as aglomerações. “Ser ético nesse tempo é fazer cumprir o dever do bem coletivo, que está acima das vontades individuais. O outro que sofre, demanda de mim uma atitude que não pode ser egoísta e individualista, mas que deve ser uma preocupação que exige de mim apenas pequenas atitudes como não aglomerar, higienizar as mãos, tomar cuidado em manter o distanciamento e, principalmente, a quarentena quando indicada”, frisa.

O aspecto da responsabilidade

Ao dizer que a humanidade atravessa um momento único, Sérgio comenta que a questão da transmissão do coronavírus deve ser vista sob o aspecto da responsabilidade individual e coletiva do cidadão. “Como é uma questão de saúde que afeta a sociedade como um todo é preciso se observar o que é o coletivo e o que é individual, ou seja, aquilo que faço afetará outras pessoas? Minha conduta individual prejudicará a coletividade?”, questiona.
“Sabemos que momentos excepcionais pedem também medidas excepcionais e é o que estamos vendo hoje com a imposição de medidas restritivas de caráter sanitário que não existiam antes da pandemia. Esta imposição muitas vezes é encarada como uma supressão ou ofensa a direitos individuais. Ocorre que isso acaba refletindo de forma coletiva e ambos são bens protegidos, daí a discussão”, diz o coordenador do curso de Direito e traz à luz os fatos que exigem medidas jurídicas.

O que enseja crime

“É fato que o descumprimento das medidas sanitárias decretadas leva, ou vem levando, ao aumento dos casos da doença. Em consequência os hospitais não têm mais leitos disponíveis e isso pode levar ao aumento do número de mortes. O individual afetando o coletivo. É dessa forma que devemos enxergar a imposição das medidas: preservação do coletivo em detrimento ao individual. Somos todos responsáveis pela sociedade e, neste momento extremo torna-se necessário que direitos individuais sejam sobrepostos por coletivos, mesmo porque a disseminação proposital da doença, em tese e dependendo das circunstâncias que envolvem a transmissão, podem caracterizar o crime”, esclarece.
No entender de Regina, o que se tem observado no dia a dia é que o comportamento ético das pessoas não tem correspondido às orientações recebidas. Cita que ética social é uma condição coletiva e não individual; que mais vale a sua prática do que a sua teoria, para que seja compreendida pelas pessoas em geral. Afirma que em tempos de pandemia as virtudes são públicas e entre outras condutas éticas evidenciam as seguintes: honestidade, responsabilidade e prudência. Defende a ética social de valorização das boas atitudes, dos esforços e das boas intenções para prevenir e combater a Covid-19, doença causada pelo coronavírus. Expõe que a preocupação com o vírus é de todos e não somente das instituições de saúde.
 

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