Tristeza em tempos de felicidade compulsória

OPINIÃO - Leonardo Delatorre Leite

Data 25/08/2022
Horário 05:00

O poeta escocês, George MacDonald, considerado o pioneiro da literatura fantástica moderna, considerava a tristeza um meio essencial para a própria felicidade, pois o estado de lamentação e a angústia, em última instância, revelam aos seres humanos a perda ou a ausência de um bem. Nesse sentido, afirma o autor supracitado: “Não há mal na tristeza. É verdade que não se trata de um bem essencial, um bem em si (...) mas se misturará com qualquer coisa boa e está tão ligada ao bem que abrirá a porta do coração para qualquer bem”. Diante disso, é importante frisar que a chamada felicidade compulsória, também denominada pelo pensador sul-coreano Byung-Chul Han como a afirmação da positividade, apenas prejudica o caminho para a conquista da felicidade. 
Num primeiro momento, é premente caracterizar os momentos de tristeza como etapas naturais da vida, visto que o sofrimento é inexorável, embora superável. Ademais, para fins de esclarecimento dos termos, as definições exatas de tristeza e felicidade são imprescindíveis. 
Sob essa perspectiva, as conceituações que serão utilizadas residem nos escritos do já mencionado George MacDonald e do filósofo grego Aristóteles, sobretudo em sua obra “Ética a Nicômaco”. Para MacDonald, a tristeza tipifica um remédio bom, “tão poderoso para matar as traças que devoram o coração humano (...) a dor é uma coisa desagradável, mas ela é a filha do Amor”. Desse modo, segundo o escritor em questão, os períodos de dor e desamparo refletem a escassez de um bem e apontam para a imprescindibilidade de um Bem maior, que realizará integralmente o homem, a saber: o Amor. Para Aristóteles, a felicidade é a atividade virtuosa da alma, a finalidade das ações e condutas humanas, reiterando, assim, uma perspectiva ética caracterizada pela teleologia, ou melhor, por uma dimensão finalística. 
Em vista disso, cabe ressaltar uma ligação explícita entre o Bem, as virtudes e a felicidade, visto que todos os homens almejam a felicidade, a finalidade derradeira de todas as atividades dos seres humanos, advinda, primordialmente, da vida virtuosa. Além disso, conforme aponta Tomás de Aquino, comentador da obra aristotélica, a virtude máxima é a caridade, o Amor, a alegria pelo Bem, isto é, o sacrifício em prol do próximo e da verdade, a plena vivência da esperança. 
Conforme supramencionado, a tristeza é o indício da perda de um bem, da falta de algo que realiza o indivíduo, mas também é um sinal de que é preciso um Bem maior para a superação das adversidades e dificuldades próprias da existência humana. Diante do exposto, a exigência da felicidade compulsória impede o amadurecimento próprio e necessário para a vivência genuína da felicidade. 
Em virtude do que foi apresentado, percebe-se que a tristeza é algo natural e próprio da existência do ser humano. Nas palavras de MacDonald: “é apenas um estreito tempestuoso através do qual ele deve passar para seu oceano de paz”. Por certo, o estado de lamentação não é um bem em si, uma finalidade em si mesma e, se tomada como algo constante e como um fim específico, acaba por se tornar prejudicial. Enfim, é preciso constatar que, mesmo nas adversidades, há esperança nos bens próximos e a tristeza tipifica um instrumento para reconhecê-los. 
 

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