Um pouco de história sobre fatores de risco para doenças do coração

OPINIÃO - Osmar Marchioto Jr.

Data 07/02/2024
Horário 05:00

O que a morte do presidente americano Franklin D. Roosevelt em 1945 tem a ver com a descoberta dos fatores de risco para doenças do coração? Até a data de sua morte não havia informações de como poderíamos prevenir doenças do coração. Para se ter ideia, acreditava-se que pressão alta não necessitava de tratamento.
Roosevelt assume a presidência do EUA em 1933 e a partir daí sua pressão sobe gradativamente ano após ano, chegando a valores próximos de 22 x 10mmHg, o que era considerado normal para a época.
Com valores tão altos, o presidente acabou sofrendo um derrame hemorrágico, que levou à sua morte. A partir daí, ocorreu a “virada de chave” na sociedade americana, quando as pessoas começaram a se questionar quais os motivos que as levavam a morrer do coração.
O governo norte-americano liberou incentivos financeiros para pesquisas na área, que possibilitou o desenvolvimento do estudo mais famoso da cardiologia: o chamado estudo Framingham.
Os pesquisadores fizeram um programa que duraria a princípio 20 anos, tempo em que eles acompanhariam os pacientes de perto para monitorar seus indicadores de saúde e para tentar responder à pergunta que motivou o trabalho: afinal por que infartamos? Vale ressaltar que até esse momento o conceito de fatores de risco para doenças do coração simplesmente não existia.
Com o passar do tempo e análise dos dados, foi demonstrado a forte associação da obesidade, hipertensão, diabetes, tabagismo, colesterol alto com as doenças cardiovasculares. Nascia então o termo “fatores de risco para doenças cardiovasculares”, que estão diretamente relacionados com nosso estilo de vida.
Após 70 anos da descoberta da causa do infarto, os números não param de crescer, chegando a dados alarmantes com mais de 9 milhões de mortes em todo o mundo causados por doenças do coração no ano de 2019.
Afinal onde estamos errando? Nós médicos estamos perdendo essa batalha de goleada, mas por que será? A resposta está intimamente relacionada com o estilo de vida moderno associado com a nossa abordagem equivocada quando o assunto é prevenção de doenças do coração.
Precisamos descer do pedestal, entender que orientações vagas, do tipo, “o sr. precisa fazer exercício”, não funcionam e que mudar um hábito é um processo e não um evento com data e hora marcada. Temos que mudar nossa abordagem e passar de ditadores de regras para treinadores de habilidades do nosso paciente, pensar em um plano de cuidados multiprofissionais com foco no médio e longo prazo.

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