Bebê, Kaleb, Luke, Marlon, Tataco e Tiquinha. O que esses cachorros possuem em comum? Uma dona disposta a dar a vida pela saúde e bons cuidados e uma disposição sem igual para, além deles, promover qualidade de vida aos que, através de denúncias, precisam de ajuda. A responsável por este trabalho é a auxiliar geral Luciana Cristina Teixeira, 48 anos, que teve o seu primeiro contato com os animais ainda criança, mas foi ter oficialmente o seu primeiro cachorro quando tinha 13 anos.
De lá para cá já foram quase 20 animais que passaram por sua casa, em Presidente Prudente, sendo que, hoje, seis seguem em seus cuidados. Quatro deles passaram por situações de maus-tratos ou doações e, após o tratamento devido, e sem um lar aos melhores amigos, a casa de Luciana se transformou no novo abrigo de todos. “É um sentimento muito puro, sincero e verdadeiro, e posso dizer que é um amor que você não encontra em muitas pessoas. Os animais são muito meigos e encontram no dono o seu mundo. A pureza é que faz amá-los. É um amor que não requer nada em troca”, informa a protetora.
Luciana já vivenciou situações que qualquer humano que tenha, mesmo que pouco, carinho por animais, se sentiria na obrigação de intervir e buscar uma solução para o problema. Sobre o acolhimento que proporciona, ela afirma que, mesmo sem ser algo oficializado, é pelas redes sociais que as denúncias, ajudas e trabalhos são desenvolvidos. Confira abaixo a história e o papel realizado pela protetora de animais.
O Imparcial: Quem é Luciana Teixeira?
Luciana: Bom, sou nascida e criada em Prudente e desde que nasci nunca sai daqui. Tive uma infância bem alegre, feliz e minhas recordações de infância são de quando eu brincava na rua com animais, principalmente cachorros. Me recordo que eu morava na Vila Comercial e a babá que cuidava de mim havia adotado dois cachorros, Nick e Nana. Eu tinha sete anos e vi o quanto eu já gostava de animais. Quando eles morreram, uns três anos depois, sofri demais e foi no meu sofrimento que entendi meu amor pelos animais. Eles morreram de acidente de carro, pois, infelizmente, foram atropelados.
E quando você teve o primeiro cachorro?
O Nick e a Nana, por mais que eu os amasse, não eram meus, era mais um carinho que eu tinha por ser um dos primeiros contatos que tive. Além deles, tive a oportunidade, aos 13 anos, de ficar por uns dias com um poodle que apareceu no meu quintal e por não sabermos de quem era. Acabei o devolvendo quando apareceram os donos e fui ter meu próprio cachorro, um vira-lata de nome Tiquinho, logo em seguida.
Quantos cachorros você já teve ao longo dos anos?
Olha, eu nunca passei sequer um ano da minha vida sem um animal. Quando criança, como dito, eu brincava com aqueles que estavam na rua, e esse amor foi crescendo a cada dia que passava. Depois dos 13 anos, quanto oficialmente já tive o meu primeiro animal, penso que já devem ter passado pela minha família algo em torno de 15 ou 20 cachorros. Cada um recebeu o amor devido e todos foram muito especiais.
(Foto: Marcio Oliveira)
E de onde vem esse amor por cachorros?
Justamente do mesmo amor que eles têm por nós. É um sentimento muito puro, sincero e verdadeiro e posso dizer que é um amor que você não encontra em muitas pessoas. Os animais são muito meigos e encontram no dono o seu mundo. A pureza deles é que me faz amá-los. É um amor que não requer nada em troca.
Você desenvolve algum trabalho de proteção animal?
Não é nada formalizado, mas tenho um grupo de cinco amigos em que todos atuamos pelas redes sociais em um trabalho acolhedor. Quando há algum animal que precisa dos nossos cuidados, a gente vai e resgata, trata em veterinários, pedimos ajuda para cobrir os custos pelas redes sociais e tentamos promover melhorias na vida daqueles animais. Como as pessoas já sabem que participamos desse trabalho, elas acabam nos procurando em diversas situações, como denúncias, pedidos de ajuda e situações de maus-tratos. Estou nesse trabalho já tem mais ou menos seis anos e sei que faço um trabalho bem importante.
Quantos cachorros você tem hoje e como chegaram aqui?
Atualmente são seis animais aqui em casa, cinco machos e uma fêmea. Quatro deles vieram parar aqui após precisarem de um lar temporário, mas não conseguiram uma casa, uma família, o que ocorre às vezes. Como vai demorando a doar, eles vão ficando aqui e eu acabo me apegando, o que faz com que eu não tenha coragem de deixá-los ir. O mais velho é o Luke. Ele chegou aqui depois que foi doado por uma pessoa que não o quis mais, não se tratou de um resgate, mas sim uma doação há seis anos. Já o Tataco, que está comigo há cinco anos, era de uma mulher que teve depressão e acabou indo embora para São Paulo. Ela o largou sozinho e foi quando me acionaram, ele não conseguiu um lar e ficou por aqui. Já o Marlon chegou há três anos, quando o resgatamos de um homem que era alcoólatra. Quando o encontramos, estava muito magro e doente. Como não conseguimos um lar, ele também ficou por aqui. A Tiquinha, na verdade, foi rejeitada pela mãe e pelos irmãos logo que nasceu, na rua. A mãe começou a maltratar dela, então, a levei para um veterinário, tratei e trouxe para casa. Aqui ela está há dois anos. O Kaleb havia sido atropelado e o deixaram jogado na calçada, há mais ou menos um ano e meio. Ele passou por uma cirurgia, não apareceu nenhuma pessoa interessada na adoção, e aqui ele ficou. O Bebê, por fim, foi um cachorro que eu mesma dei para minha mãe.
Em relação aos cuidados, como vocês arrecadam o dinheiro?
Muitas vezes, não somente eu, mas todos os protetores precisam completar a verba dos tratamentos do seu próprio bolso. Nosso trabalho de arrecadação de dinheiro é feito totalmente pelas redes sociais, e, se não conseguir o total que precisamos, acabamos dando um jeito. Não faço nem ideia de quanto eu já gastei em todos esses anos, mas sei foi uma boa quantia, mas não me arrependo nenhum pouco.
(Foto: Marcio Oliveira)
Alguma história te marcou ao longo desses seis anos?
Na verdade são várias. A do Marlon, que o dono batia nele, foi uma das que me marcaram muito. Mas tem outra, a de um cachorro que não ficou comigo, que se tratava de uma denúncia de que o cachorro ficava preso em quarto escuro, totalmente fechado e que estaria desorientado. Fomos até com a polícia e encontramos o dono e toda a situação que havia sido mencionada. O que ocorria era que o animal não via a luz do dia, eram 24 horas trancado dentro de um quarto escuro, e o dono dele, um senhor de idade, não havia percebido que ele andava de um lado para o outro desnorteado e que já estava ficando doido. Conversamos com o senhor, ele não quis doar, mas demos a condição de que ele cuidasse de maneira correta. Hoje o cachorro vive no quintal e vive bem, acompanhamos a situação sempre, pois é algo que nos preocupou. Isso foi no ano passado e sempre estamos em contato.
Quais são as dificuldades encontradas em ser uma protetora?
Acredito que é mais a questão da falta de ajuda do poder público, pois falta auxílio para a castração desses animais, falta um abrigo na cidade, não para eles viverem lá, mas para que sirva como um ponto de passagem, para que eles sejam tratados e posteriormente doados, falta um hospital público. Não temos políticas voltadas aos animais, penso que esta é a maior dificuldade. Vejo que este é um cenário que pode ser revertido, mas precisaríamos, para tanto, de pessoas comprometidas com a causa. Precisamos de pessoas que vejam os animais com o olhar de amor, que vejam como eles sofrem e o quanto precisam de cuidados.
E quais os pontos positivos?
A melhor parte é quando você consegue tirar o animal de qualquer situação de sofrimento e, ao longo do tempo, você vê que esse animal está bem. Ver que ele ganhou um novo lar, que está feliz e que engordou não tem preço. Você consegue ver a felicidade no semblante do animal. Por isso, sempre acompanhamos o antes e o depois da nossa atuação, para ver que nosso trabalho foi realizado com sucesso e está sendo continuado. O acompanhamento após a retirada e reinserção do animal é muito importante. Você tirá-lo de uma situação de sofrimento e ver que ele está bem não tem preço. O reconhecimento é nítido, eles nos reconhecem, e isso é o lado positivo.
Como funciona a denúncia e todo o trabalho com os donos?
Primeiro de tudo a gente tenta conversar com a pessoa e entender a situação em que o animal vive. Explicamos como deve ser o tratamento aos animais, oferecemos apoio e, por último, perguntamos se essa pessoa quer doar ou não o cachorro, para que ele possa ter melhores condições. Se for o caso de doar, o animal passa pelo tratamento adequado e vai para um lar temporário, para posteriormente ser adotado. Na maior parte dos casos, o dono quer ficar, alguns aceitam a ideia de doar, pela falta de condições, mas não são a maioria. O trabalho somente para quando percebemos que o animal está sendo bem cuidado, aí paramos de acompanhar.
Até quando pretende fazer esse trabalho?
Até quando eu puder, até quando eu morrer, pois não é algo que eu pretendo parar. Às vezes você passa por momentos em que dá vontade de sair da causa, mas a causa sempre vem até você, pois mesmo se afastando, as situações chegam até você e é impossível negar ajuda. Esse tipo de amor nunca acaba.
Por fim, deseja deixar algum apelo aos leitores?
Acho que seria muito bacana se todos se envolvessem com a causa, ao ver um animal abandonado na rua, por exemplo, mesmo que você não possa acolher, publique nas redes sociais e tente ajudar de alguma forma. Hoje em dia, com as redes sociais, esse ato pode ser pequeno para muitos, mas já muda a história daquele animal. Mesmo que não tenha um cachorro, esteja dentro da causa.