10% dos estudantes usam Ritalina sem prescrição

De acordo com pesquisadora, jovens apelam ao remédio para aumentar concentração e ficar mais alertas durante período de provas

PRUDENTE - André Esteves

Data 13/08/2017
Horário 12:59

Uma pesquisa realizada junto a 857 estudantes de cursos de graduação do oeste paulista revelou que, de um total de 18% que fazem uso da Ritalina, nome comercial do metilfenidato, medicamento destinado ao tratamento de TDAH (Transtorno de Atenção e Hiperatividade) e de narcolepsia, 10% afirmam consumi-la sem prescrição médica. De acordo com a autora do estudo, a docente do curso de Biomedicina da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), Angélica Augusta Grigoli Dominato, uma vez que o fármaco atua como um estimulante para o sistema nervoso central, os jovens acabam buscando-o a fim de aumentar a concentração e ficar mais alertas, especialmente em período de provas.

Os dados apontados pela universidade ainda mostram que 54% conhecem alguém que faz mau uso do medicamento; 49% acreditam que o metilfenidato é usado de forma abusiva; e 21% sabem onde adquiri-lo sem receituário. A justificativa de 12,7% dos acadêmicos é que a Ritalina impulsiona a capacidade de concentração e o rendimento acadêmico.

Em termos de efeitos colaterais, 59,2% declaram manifestá-los, enquanto 61% relatam se sentir cansados após o fim do efeito. Entre os sintomas, 55,6% apontaram taquicardia, insônia e dor de cabeça; 48,9% ficaram com a boca seca e ansiedade; e 46,7% perderam o apetite e apresentaram tremores nas mãos. Apesar disso, dentre os 5% que sofreram efeitos colaterais, 51,1% insistem no uso da medicação e 19,7% elevaram a dose com a finalidade de atingir o efeito inicial.

Angélica expõe que, inicialmente, a ideia era aplicar o questionário somente aos estudantes de Medicina e Engenharia, no entanto, por orientação dos professores que fizeram a avaliação do projeto, foi tomada a decisão de ampliá-lo para todos os cursos. O aumento da cobertura trouxe resultados inesperados, pois ante a expectativa dos acadêmicos da área de Saúde liderarem o consumo do medicamento, alunos de Direito foram os que mais afirmaram ingerir a Ritalina e em maior quantidade. Enquanto os graduandos em Medicina descreveram tomar entre 5 e 10 miligramas, os estudantes de Direito apostam em 80 mg.

 

Perigos para a saúde

A docente alerta que, além do risco de efeitos colaterais, o uso de Ritalina sem prescrição médica e em quantidades não recomendadas pode causar dependência química. Conforme Angélica, o metilfenidato é controlado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e, por esta razão, não pode ser dispensado sem receita. O que se conclui, portanto, é que esses jovens buscam o remédio no “mercado negro”. Segundo ela, essa realidade não é um dilema pontual, mas um problema de saúde pública, que requer fiscalização mais intensa.

Angélica defende que é preciso averiguar a origem desses medicamentos, porque pode vir acompanhada de outro agravante: o armazenamento incorreto. “Quem faz o uso de forma ilegal não sabe como esse remédio é armazenado e está sujeito a consumir um produto exposto à degradação química, que pode ocorrer mediante altas temperaturas e presença de umidade”, pondera. Como também é farmacêutica, acredita que há aqueles que vão até as farmácias com uma receita falsa e conseguem comprar de forma “falsamente legalizada”, comercializando, em seguida, entre os colegas. Para a professora, torna-se necessário, nesse sentido, fazer campanhas que minimizem essa prática nos ambientes universitários.

Em nota, a Unoeste informa que orienta constantemente seus alunos com relação aos malefícios de todos os tipos de drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas, sendo que a Ritalina, inclusive, foi um dos temas da 19ª Semana de Prevenção ao Uso de Drogas, voltada aos alunos de todos os cursos. “Desta forma, a universidade estimula os acadêmicos a fazer o uso correto do medicamento, sempre com prescrição e orientação médica”, se posiciona.

 

Contrabando

Procurada, a diretora do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia) de Presidente Prudente, Rosilene Martins Viel, refuta a ideia de que o “comércio ilegal” provenha das farmácias da região, considerando que o conselho mantém um “controle rígido” para combater a dispensação irregular de medicamentos. “Seria mais plausível afirmar que a distribuição de Ritalina sem prescrição médica seja fruto de contrabando”, pontua.

A coordenadora da Visa (Vigilância Sanitária) de Prudente, Valeria Monteiro Vendramel, por sua vez, comunica que as inspeções nas drogarias e farmácias são pontuais para liberação de licença ou sua renovação ou quando há alguma denúncia. Em relação aos medicamentos controlados, esclarece que os estabelecimentos devem seguir as normativas e as legislações vigentes, dentre elas, a Portaria 344/98 e o lançamento de todo o movimento de cada medicação controlada no SNGPC (Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados), como compras através da nota fiscal; venda por meio da receita médica devidamente preenchida; e as baixas (perdas por quebras ou vencimentos), o que é checado durante a inspeção. Além disso, é preciso entregar os mapas referentes à movimentação mensal, trimestral e anual a Visa para conferência.

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