9 de julho de 32: um marco na luta pela democracia

Para comemorar a Revolução, professora convida todos a reviverem esse episódio e a refletirem seus diferentes desdobramentos

VARIEDADES - Oslaine Silva

Data 09/07/2016
Horário 08:43
 

De acordo com Érica de Campos Visentini da Luz, coordenadora da pós lato sensu "História, sociedade e cultura" e  professora do curso de História da Faclepp (Faculdade de Ciências, Letras e Educação de Presidente Prudente), o Estado de São Paulo sempre foi um importante ator na política nacional. Desde a Proclamação da República, em 1889, assumiu um papel de destaque. "É só lembrarmos da política do café com leite desse período ", expõe.

Jornal O Imparcial Érica diz que a data promove o diálogo entre presente e passado

Segundo a professora, o PRP (Partido Republicano Paulista), base do sistema conservador da chamada República Velha, se opunha ao PD (Partido Democrático) que aderiu aos movimentos da Revolução de 1930. Como não consentissem com as diretrizes apontadas por esse governo revolucionário, principalmente, pela perda de influência política no cenário nacional, o PD rompeu com Getúlio Vargas e seu governo, ao mesmo tempo em que se aproximou dos antigos adversários do PRP, formando a FUP (Frente Única Paulista), que se tornou a porta-voz das reivindicações de reconstitucionalização e de autonomia administrativa para o Estado de São Paulo.

A FUP passou a articular, junto aos meios militares e a algumas das principais entidades de classe do patronato paulista, a preparação de um movimento armado contra o Governo Provisório. "Houve uma forte mobilização popular, inclusive com a ‘Campanha do Ouro para o Bem de São Paulo’ que angariava recursos para o financiamento bélico do conflito", explica Érica.

 

9 de julho de 1932

Foi nessa data, que o movimento revolucionário teve início e em 1º de outubro do mesmo ano, foi assinada a rendição. Apesar da derrota militar, economicamente falando, o Estado de São Paulo continuou tendo uma atenção à situação de crise, com o governo buscando manter a política de valorização do café, comprando e retendo estoques, além de permitir o reescalonamento das dívidas dos cafeicultores e aceitar bônus de guerra como moeda legal, entre outras medidas.

"Em termos políticos, o fortalecimento do projeto constitucionalizante, com Vargas reativando a comissão que elaboraria o anteprojeto de Constituição e com a criação de novos partidos para concorrer às eleições para a Assembléia Nacional Constituinte, mostrou a força política dos paulistas", ressalta.

Desdobrou-se na aprovação da Constituição de 1934, que legitima o regime democrático, o voto secreto, o voto feminino, o republicanismo federativo, o mandato de segurança a autodeterminação dos sindicatos e assegura aos trabalhadores uma legislação trabalhista.

 

MMDC

Conforme a professora de História, no site do CPdoc/FGV (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil / Fundação Getúlio Vargas) -  http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/mmdc -, consta que a sigla foi adotada por uma organização civil paramilitar criada em São Paulo no dia 24 de maio de 1932.

MMDC eram as iniciais dos nomes pelos quais eram conhecidos os estudantes Cláudio Bueno Miragaia, Mário Martins de Almeida, Dráusio Marcondes de Sousa e Américo Camargo de Andrade - mortos na noite de 23 de maio na praça do Patriarca, durante uma manifestação popular em favor da "autonomia" de São Paulo e, da reconstitucionalização do país, que culminou na invasão da sede do Partido Popular Paulista, antiga Legião Revolucionária de Miguel Costa.

A princípio funcionando como sociedade secreta, a organização foi oficializada pelo "governo revolucionário paulista" em 9 de julho de 1932, data em que foi deflagrado o movimento constitucionalista. Após o término da revolução, em 29 de setembro, o MMDC deliberou não se constituir em partido político, preferindo manter o caráter de instituição cívica e adotando por lema "Defender São Paulo na paz, dentro da ordem, pelo voto".

Nas eleições de 1933, para a Assembléia Nacional Constituinte, o MMDC deu seu apoio oficial à Chapa Única por São Paulo Unido, reforçando assim a posição dessa legenda em defesa de um "governo civil e paulista" para o Estado.

 

O significado disso para nós

Érica enfatiza que as datas servem como referências para promover o diálogo entre presente e passado. Comemorar significa trazer à memória, fazer lembrar, ter uma recordação de um determinado fato. Assim, ao se "comemorar" a Revolução Constitucionalista de 1932 todos são chamados a rever esse episódio e a refletir sobre os seus diferentes desdobramentos.

Ela acredita que toda efeméride carrega consigo uma carga simbólica muito intensa e se começasse pelas próprias palavras revolução e constitucionalista, já teria muito que questionar e indagar sobre aquele determinado momento histórico e a realidade presente.

"Talvez uma palavra que poderia se sobressair nessa comemoração seria ‘envolvimento’, pois ao analisarmos os fatos, percebemos que não só as lideranças políticas, mas boa parte da população paulista participou, se envolveu, se engajou na busca de uma nova política para a nação", enfatiza a professora.

 

 
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