A acompanhante

Persio Isaac

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 30/05/2021
Horário 06:00

Meu nome é ninguém. Escolhi a profissão mais antiga do mundo para saciar a minha ambição. Faço do meu corpo um instrumento de negócios e guardo meus sentimentos numa armadura de aço. Sou muito bonita e tenho atributos físicos que agradam a maioria dos homens. Cobro R$ 1 mil por hora. Faço cinco a seis programas diários. Adoro minha liberdade e minha independência. 
Meus clientes são empresários, desembargadores, juízes, jogadores de futebol famosos, políticos poderosos e banqueiros. Quem tem o poder tem o sistema aos seus pés. Eu danço a música dos poderosos. Já viajei para muitos países acompanhando missões comerciais, fingindo ser esposa ou namorada. Não tenho tempo para consertar o mundo.
Acho engraçado quando acaba uma transa e os homens acendem um cigarro, tomam goles de Whisky e ligam para suas mulheres dizendo: "eu te amo". A hipocrisia faz parte da natureza humana. Faço eles sentirem que são os melhores homens que já transei. Os egos ficam inflados de vaidades. Quanto maior a mentira mais eles acreditam. Para os mais velhos, dou a minha juventude, eles são muito generosos. Não saio com meninos ricos e mimados. Muitas mulheres entram nessa vida por falta de opção. Não é o meu caso. 
A prostituição está em toda parte. Eu vivo na sombra de uma sociedade moralista. Os homens sabem distinguir sexo de amor, diferente das mulheres que sonham com um casamento perfeito. Sou um sexo cômodo para meus clientes. Sou uma mulher fatal e tenho que estar sempre disposta a realizar qualquer fantasia sexual desde que não haja nenhum tipo de masoquismo violento. Alguns homens de negócios gostam de emoções fortes, misturam prazer com drogas. Os políticos têm dor na consciência por aquilo que fazem, mas nunca deixam de fazê-lo. 
Tenho que ser muito feminina. Protejo minha vida pessoal e minha intimidade com unhas e dentes. Se sinto desejo? Para mim depois de você transar cinco a seis vezes por dia o sexo deixa de ser sexo e passa a ser um esporte. Se um dia eu sair da minha profissão, tenho que reaprender a desejar, o desejo fica adormecido. Se quiserem beijar a minha boca eu cobro mais. Apenas negócio. Mas sei fingir muito bem. 
Casar dá trabalho e custa. Namorar exige energia, e pagar por sexo se torna mais simples a relação, não há compromissos. O homem sai com prostitutas para exercer seu papel dominante, seu dinheiro é bem gasto e o prazer é garantido. Quem sabe um dia meu coração se cansa de ficar preso nessa armadura de aço e queira sair para cantar os versos de Belchior: "O amor é uma coisa mais profunda que uma transa sensual". Quem sabe...
"Se queres uma vida repetitiva saia com muitos homens. Se queres uma vida de infinitas diversidades escolha o amor".
 

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