Desde o último contato telefônico que tivemos, me passa pela cabeça muitas cenas de suas aventuras pelo mundo da dança.
Você tinha não mais do que sete aninhos e já estava lá no palco do Teatro Municipal de Presidente Prudente fazendo parte daquela singela adaptação do “Quebra Nozes” dirigida pela professora de dança do Tênis Clube, Helga Urel. Foram não mais do que cinco minutos de performance daquele inquieto grupo de pequenas meninas fantasiadas de ursinhos de pelúcia que saltou para fora de uma imensa caixa de papelão para apresentar os primeiros passos de ballet. Música emblemática de Tchaikovsky. O enredo contado sobre a perspectiva da menina que ganha o boneco Quebra-Nozes na noite de Natal e cai no sono.
Demi-pliése battement stendus em primeira posição dos pés. Correm em fileira, formando um círculo no palco. Exercício lento que trabalha a colocação correta do corpo da bailarina. Muitas fotos. Aplausos em cena aberta da plateia repleta de avós e tias corujas. E pronto. O espetáculo seguia em frente até apreciarmos uma deliciosa pizza com seus avós que atravessaram o Estado de São Paulo para assistir orgulhosos sua participação relâmpago.
Passaram-se muitos anos de horas infinitas de ensaios tão fundamentais para a formação de uma bailarina, não é mesmo? Desde o básico Demi-plíes e battement stendus em 2ª, 4ª 5ª posições, que tem a função de trabalhar a distribuição do peso do corpo em posições “abertas” (2ª e 4ª) e fechada (5ª). Battement stendus rápidos para o alongamento das pernas, firmemente posicionadas, e a correta colocação do quadril, mantendo a coluna ereta. Até o grands battements, exercício enérgico e explosivo que fortalece o corpo para a impulsão dos grandes saltos.
Depois vieram as participações nos festivais. Teve também as aulas com a Miss Sims na cidade britânica de Bristol. E dali você tomou conta do mundo. Abriu as portas de oportunidades no English National Ballet School. Ganhou bolsa no Seminário Internacional de dança de Brasília para o curso superior de ballet no Palucca-Schule de Dresden com apenas 16 anos. Foi trabalhar em Hamburgo e depois em Dublin até se incorporar ao corpo permanente do prestigioso Aalto Ballet de Essen. “Lago dos Cisnes”. “Dom Quixote”, “Giselle”, “Coppelia” e tantos outros espetáculos do ballet de repertório. Casa sempre cheia. Giros em equilíbrio estável. Dor e suor transformados na leveza graciosa da pluma. Controle motor e resistência física que deixam o corpo suspenso no ar em forma de suspiro vibrante do amor. Senhora bailarina, você nos faz sempre lembrar que gente nasceu para brilhar. Avante!