Nesta semana, a FCT/Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista) abre suas portas para a quinta edição do Festival Ocupação Preta, agora integrado ao I Congresso de Estudos das Relações Étnico-Raciais da universidade. Com o tema “Entre Sankofa e Tekoha: tecer o futuro com fios ancestrais”, o evento faz algo que poucas instituições no Brasil têm se proposto a fazer de forma consistente, onde, cria um espaço onde memória, pertencimento e luta antirracista se tornam parte da vida acadêmica.
A programação — que vai de vivências formativas sobre educação para relações étnico-raciais a apresentações de teatro negro, oficinas de dança afro e debates sobre ações afirmativas — mostra uma universidade que não apenas discute o racismo, mas o enfrenta pela via da arte, do afeto e da produção intelectual.
E talvez o ponto mais importante desse movimento seja entender que estamos diante de um gesto político muito profundo, que quando a universidade acolhe as narrativas negras e indígenas, ela também confronta o silêncio, o apagamento e as violências simbólicas que historicamente marcaram esses corpos dentro do ensino superior.
Eventos como esse nos lembram que o racismo institucional não é um conceito abstrato, mas uma realidade que se manifesta nas relações cotidianas, nas estruturas de poder, nas dificuldades enfrentadas por estudantes quando denunciam situações de discriminação ou quando afirmam sua identidade em espaços onde nem sempre foram bem-vindos.
Ao mesmo tempo, festivais como o Ocupação Preta apontam para outro caminho: o da construção coletiva, da permanência estudantil, da celebração das epistemologias negras e indígenas, da abertura de novos horizontes para a ciência e para a formação profissional. Não se trata apenas de reconhecer a violência histórica, mas de tecer possibilidades de futuro com os fios da ancestralidade.
É simbólico que esse festival aconteça dentro de uma universidade pública. É um lembrete de que nossas instituições ainda são espaços de disputa, onde vozes antes caladas agora se levantam para contar suas histórias, produzir conhecimento e reivindicar políticas de equidade e justiça racial.
Que essa semana sirva para renovar o compromisso de todos nós com a construção de ambientes acadêmicos mais seguros, humanos e democráticos. Ambientes onde estudantes negros, indígenas e periféricos não precisem carregar sozinhos o peso das estruturas; onde possam existir sem medo; e onde a memória ancestral seja reconhecida como base para construir novos mundos possíveis.
Participar dessa construção coletiva é reafirmar que a educação pública só cumpre sua missão quando abraça a pluralidade dos corpos, das histórias e das resistências que a atravessam.