A corrente das mãos

Estava vindo agora para o meu consultório e observei uma jovem moça de mãos dadas com uma senhora bem idosa, caminhando pela calçada. De cabelos branquinhos feitos bolinha de neve, magra, andar lento e cuidadoso, seguia a filha. Fiquei pensando muito sobre a construção do nosso desenvolvimento, dia a dia de nossas vidas e suas diferentes etapas. De mãos em mãos vamos seguindo. Como segurei forte, as mãos dos meus três filhos!
Lembro bem quando minha mãe segurava forte minhas mãos. Eu agarrava apertando as mãos de dois filhos e o outro ia pendurado na bolsa trançada nas costas. E assim, seguindo a vida, eu que hoje seguro agarrando forte a mão de minha mãe. Damos as mãos como numa corrente. Uma segura a mão da outra em diferentes etapas da vida, formando uma corrente. A mãe aperta forte a mão do filho, pois estão em aliança, elos são constituídos desde a fecundação. E assim seguem acorrentados uns aos outros. 
O filho cresce e aos poucos vão aumentando as correntes. O ideal é que não haja a quebra dos elos. Hoje seguro sua mão. Ela precisa que eu segure sua mão bem apertada, pois ela teme perder-se. Eu temo perder minha mãe. Observa os contrastes, diferenças e inversão de valores. O tempo não para. Hoje, somos bebês e amanhã idosos. O conforto é pensar na corrente das mãos. Precisamos conhecer o amor para poder amar. Conhecer o amor é viver em experiência emocional os sentimentos amorosos. 
Desde bebê, ou melhor, durante a gestação (ontogenética), já temos experiências das mais diversas, introjetamos e projetamos instintivamente. Introjetando (colocando para dentro) uma capacidade amorosa da mãe, nosso mundo interno passará a ser constituído de afeto. Introjetaremos uma “mãe suficientemente boa”. Através dessa mãe que capta sentimentos, muitas vezes até de desespero do bebê, colocando para dentro dela, digerindo, e assim, devolvendo mais suave e metabolizado em algo suportável, o bebê passa a projetar (colocar para fora) o bom. 
Esse movimento de retroalimentação (feedback), constituído de projeções e introjeções do bom objeto interno, leva à corrente das mãos. O amor é o maior ingrediente para fertilizar essa corrente. De mãos dadas com minha mãe, transformei-me. Em transformação em nome do amor, seguro hoje nas mãos de minha mãe regredida, num movimento entrelaçado.
 

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