A era das opiniões rápidas e da escuta curta

OPINIÃO - Amanda Whitaker Piai

Data 04/12/2025
Horário 04:30

Vivemos em um tempo em que quase tudo precisa ser para ontem, respostas rápidas, reações prontas e conclusões instantâneas. Com isso, cria-se um ambiente propício para o desenvolvimento de uma prática que vem nos afastando uns dos outros: a pressa de opinar e a dificuldade de escutar. É como se, diante de qualquer assunto, a velocidade importasse mais do que a profundidade e estar certo é mais importante do que debater.
Nas redes sociais, essa dinâmica ganha cada vez mais força. Um comentário feito no impulso vira debate acalorado, sem que as pessoas pensem ou compreendam o real sentido da discussão; o mal entendido se espalha com mais força do que qualquer explicação. Há pouco espaço para nuance, para contexto, para silêncio. O tempo que se leva para realmente entender algo parece ter se tornado um luxo. 
Surge, então, a necessidade de se posicionar. É como se ficasse implícito que quem demora para se colocar “está por fora”, “não sabe”, “não tem argumento”. Mas será que saber é sobre rapidez? Onde fica o espaço para digestão, reflexão, pausa?
Estamos cada vez menos dispostos a ouvir com profundidade, menos tolerantes às opiniões contrárias. Escutamos para rebater, para nos defender, para encontrar brecha onde nossa opinião se encaixa. Não escutamos para acolher, compreender ou, quem sabe, mudar de ideia. 
Infelizmente, esse fenômeno não tem se dado apenas no mundo digital. Nas conversas do cotidiano, interruptores se tornaram comuns. O outro mal termina a frase e já estamos construindo a nossa. Às vezes não percebemos, mas essa pressa em responder gera superficialidade nas relações, como se estivéssemos nos comunicando pela metade. A conversa vira alternância de monólogos, não encontro de perspectivas. 
A era da escuta curta também se reflete na forma como lidamos com conflitos. Em vez de perguntar “o que você quer dizer com isso?”, preferimos interpretar, supor, completar lacunas com nossas próprias expectativas. A compreensão exige tempo, e tempo, hoje, parece caro.
Uma opinião amadurecida nasce de uma escuta mais longa; de abertura para novos horizontes; de um espaço interno que admite complexidade; de uma menor necessidade de deixar sua marca em tudo. 
O exercício de ouvir mais não resolve todos os problemas, mas permite conversas mais honestas, desacelera conflitos, abre espaço para empatia. Escutar com calma talvez seja um dos poucos gestos capazes de devolver profundidade a um mundo acostumado com o raso. É um convite para respirar antes de agir, observar antes de concluir, de perguntar antes de afirmar. No fundo, é a chance de recuperarmos algo que estamos quase nos esquecendo: a experiência de realmente estar com o outro, em vez de opinar e estar certo sobre algo. 

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