A ficha não vai cair

Roberto Mancuzo

COLUNA - Roberto Mancuzo

Data 06/06/2023
Horário 06:04

Um dia um aluno entrou todo chique na sala e eu mandei direto: “Bonita camisa, Fernandinho!”. Ele olhou e disse: “Obrigado, professor, mas meu nome é Alysson, esqueceu?”
Eu fazia referência à propaganda da antiga marca de roupas Ustop, febre nos anos 80, mas que sumiu das prateleiras faz um bom tempo. As marcas somem, mas os bordões publicitários normalmente ficam, especialmente aqueles que foram sucesso. 
Só que para além dessa constatação vem outra mais cruel: a diferença de gerações e a inevitável certeza de que você envelheceu porque quando solta uma dessa, só quem é de sua idade responde.
Para quem é professor como eu e tem mais de 40 anos, esta situação é muito rotineira em sala de aula, onde as gerações se sucedem. Os amigos de profissão podem confirmar quantas vezes ficaram no vácuo ao mandar uma piada que deveria gerar risadas e nada. E tudo porque o público com quem você fala, não conhece o termo porque é muito novinho e você já é quase um senhor ou uma senhora. Simples assim. Cruel assim.
Quer dois outros bons exemplos? Chegue para uma galera de 12 ou 13 anos e fale que quer brincar com eles de “Telefone sem fio”. Podem até topar, mas não vão entender nada do nome porque para eles todo telefone já é sem fio. Com fio não existe nem mais na casa dos avós.  
E falar que “a ficha caiu”? Que ficha, mano? O que você quer dizer com isso. Eles não conhecem nem telefone sem fio, vão saber o que é um orelhão, onde a gente usava as fichas telefônicas? 
Essa aí só perde para duas clássicas: “Voltar a fita” e “Queimar o filme”. Como fotógrafo, esse do filme eu já usei bastante e, claro, tive que dar explicações: Por que o filme queimou? Filme? Que filme? Como assim, queimou? É uma série nova da Netflix? 
Afff... Se pudesse eu “rebobinava” esses momentos de fiasco por passar atestado de velhice. Mas como não vai rolar mesmo, o jeito é ficar esperto e tentar contextualizar os assuntos com o que é novo. Afinal o tempo passa, o tempo voa e a gente nem pode mais falar que a poupança Bamerindus está numa boa porque o banco já nem existe mais e conseguir poupar hoje é quase um milagre. 
And “That’s All Folks” ou “Isso é tudo Pessoal”. Não conhece? Do Pernalonga? Não sabe quem é? Ah, deixa pra lá...
 

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