Um dia depois de ter a casa da família em Magaratiba (RJ) interditada, o jogador Neymar fez um mergulho no lago artificial construído no local, inclusive, com o desvio de um curso d’ água que passa ao lado. A interdição ocorreu por parte da Polícia Civil e da Prefeitura local e neste dia o pai do jogador, Neymar Santos, teve a prisão decretada por desacatar os fiscais. Acabou saindo de boa após perdão das autoridades.
Esta foi uma das notícias da semana passada neste país, só que o tema desta crônica não é sobre interdição de locais ou arrogância de ricos e famosos. A questão aqui é o que Neymar representa neste episódio todo.
O jogador é, desde criança, uma grande esperança para o futebol brasileiro, mas até hoje não passou disso: uma esperança, um porvir, uma chance de que finalmente teríamos de volta o nosso futebol nas alturas. Não foi e embora ele já tenha conquistado títulos importantes nos clubes pelos quais passou, o craque apenas coleciona frustrações, contusões e polêmicas de um garoto mimado. Para mim, ele é uma fraude, um verdadeiro simulacro de alguém que poderia ser, mas não é.
Neymar é um problema em discussão porque apesar de poder fazer o que quiser da vida, reuniu nas redes sociais milhões de seguidores e entre eles muitas crianças e até adultos que realmente levam em conta tudo que ele faz ou não.
Esperam dele o que se espera de alguém que durante anos cultivou a imagem de um craque, que poderia dar muitas alegrias ao público, levar o Brasil ao topo do mundo no futebol. Mas não é o que se vê.
Pelo contrário, casos de traição e desrespeito à lei levam ao público uma mensagem clara de que se você tem dinheiro, pode tudo. E não é bem assim.
Os efeitos diretos nas mentes em formação são devastadores. Não foram nem uma e nem duas vezes que precisei interceder para explicar aos meus filhos o que realmente acontece, que o que muitas vezes se cria em uma rede social é muito mais um simulacro, uma falsidade, do que uma verdade.
E quando você tem um público que te segue, tem responsabilidades. Primeiro porque é este mesmo público que o levou a conseguir milhões e milhões em patrocínio e depois pelo efeito “Pequeno Príncipe”.
Na obra do francês Antoine de Saint-Exupéry, publicado na década de 1940, há uma frase: “Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...”
Em outras palavras, mais à frente na obra, vem a sentença: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.
O garoto Neymar, que de garoto não tem mais nada, cativou milhões e é responsável sim por eles e não adianta dar de ombros agora como se não tivesse nada a ver com eles.
Quer dizer, se não quer ser o herói que tanto se projetou em cima de sua imagem, ótimo, mas também não dê mau exemplo e cuide da vida como todos nós fazemos.
Como costumo dizer aos meus clientes: “Sempre haverá um ser neste mundo atento ao que você diz. Alguém que você cativou e ela é, sim, responsabilidade sua.”