A humildade de São José

Transcrevo hoje uma crônica de Clarice Lispector chamada “A Humildade de São José”, escrita em 21 de dezembro de 1968. Pensando um pouco talvez na família e no fundamental papel do pai em seu desenvolvimento, diz assim: “São José é o símbolo da humildade. Ele sabia que não era pai da Criança e cuidava da virgem grávida como se ele a tivesse germinado. São José é a bondade humana. É o autoapagamento no grande momento histórico. Ele é o que vela pela humanidade”.

Aproveito para dividir com todos os pais que compõem o seio da família nesse Dia dos Pais e os demais dias do ano esse poema, para homenageá-los. Muitas vezes no desenrolar da trama familiar, o pai não é mesmo, o protagonista de muitas situações triviais do dia a dia. Ele segue, ao lado, numa continua caminhada realizando desejos do outro, ou outra, e postergando os seus próprios e talvez desconhecidos desejos. Ainda hoje encontramos muitos “Josés” perambulando por aí.

São José aceitou de forma incondicional ser pai de Jesus sem ao menos “tocar” em Maria. Muitas vezes, na vida do casal, quando nascem os filhos há muitas mudanças bruscas em sua rotina. A mãe acaba naturalmente desinvestindo do marido-pai, devido à demanda do bebe recém-nascido. Tanto a mãe como o bebe formam uma unidade e o pai acaba, temporariamente, ficando excluído. De vez em quando ele aproxima da dupla simbiótica, ou fusionada, para dar uma espiada ou para ver se lembram de que ele também existe. O pai então agora, espera pacientemente a vez dele. É o autoapagamento de que referiu Clarice Lispector. Ele apaga sua luz para fazer brilhar a luz divina de Maria com Jesus. Assim como a mãe esperou pacientemente a chegada do bebe, o pai agora espera pacientemente ser um “chegado” dessa dupla envolta por uma “natural” redoma.

Muitos pais vibram euforicamente, mas de longe. Assim como José que teve uma participação ativa e extremamente importante, mas de forma passiva, fica o tempo todo sendo companheiro de um conluio. Sujeitou-se a todo o contexto por amor, humildade, fé e respeito. Há muitos “Josés” deixando de realizar seus sonhos para realizar o sonho dos filhos. Lembro-me de um pai que comentou comigo que só iria pensar numa viagem, aquisição de algo do seu desejo, após sua filha finalizar a faculdade de medicina. No dia da colação de grau recebeu uma rosa de sua filha e que foi o seu melhor presente e seu melhor choro de emoção. Segue dizendo que não se arrepende de ter se submetido a tantas privações para realizar o sonho da filha. Feliz Dia dos Pais a todos, principalmente os que possuem dentro de si, um pouco das qualidades e virtudes de São José.

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