A metamorfose de ser

OPINIÃO - Lucas Azevedo

Data 01/02/2023
Horário 04:30

"O homem que volta ao mesmo rio, nem o rio é o mesmo rio, nem o homem é o mesmo homem" (Heráclito). Como se pode dizer que permanece o mesmo, se hoje está diferente de ontem e se sua concepção sobre a vida possui uma vírgula ou um ponto, uma mínima alteração na produção do seu sentido?! Porventura, a existência humana consiste em um aprimoramento diário, manutenções periódicas e atualizações sobre o campo dos ideais.
Raul Seixas diz que “prefere ser uma metamorfose ambulante”. Talvez ele saberia que a sua raiz não era tão profunda? Se guiava pelas massas? Compreendia sua evolução como ser humano em busca de uma perfeição na existência?
O que diremos nós sobre a vida, senão a vivermos? E o que diremos nós sobre a morte, senão a encontrarmos? A ambivalência se presume no sentido de que a partir do momento que nascemos já possuímos idade suficiente para morrer, e a experiência única e solitária de atravessar essa porta é o que trará a resposta para o anseio do existencialista.
As mudanças então seriam um aprimoramento para alcançar com êxito o temeroso fim que nos aguarda ou apenas para suportar uma carga de anseios que a vida produz? Qual é a relação do mundo comigo, se tenho meu próprio mundo interior? Poderia eu dizer que sou louco de experimentar viver dentro do outro para ver se o mundo dele é o mesmo que o meu ou que viver no mundo fora de mim é menos prazeroso do que eu quero do mundo?
Se o meu conceito de vida não for cotidianamente moldado e apurado com filtros sobre ética, humanidade, esperança, estrutura de bem e mal, bom e mau, serei eu apenas uma sombra ignorante sobre o mundo do outro.
Então, quando me volto ao rio, as minhas mudanças de ontem já se mudaram sobre o dia de hoje, ao menos um acréscimo ou uma diminuição de sentidos e significados, um ódio e/ou um amor a mais sobre o que vivo, a metamorfose ambulante se faz presente para que hoje quem eu sou, exista.


 

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