A politização da medicina

OPINIÃO - José Roberto Vieira

Data 26/04/2020
Horário 09:44

Na mitologia grega, Panaceia era a deusa da cura, cujo medicamento de mesmo nome – panaceia – era a cura para todos os males; tal qual a cloroquina atualmente.

Embora a origem do vírus seja a mesma, mutações genéticas podem fazê-lo mais contagioso, resistente ou mortal em determinado país ou para um grupo com características parecidas; além de cada paciente ter uma genética diferente. Portanto, a medicina não é linha de produção ou repetição em série de procedimentos, tal qual demonstrado por Charles Chaplin na película “Tempos Modernos”.

Eficiente e respaldado pelo ordenamento jurídico de um Estado Democrático de Direito, é o direito a um tratamento médico individualizado e eficiente. Daí ser monopólio, exclusividade do profissional da medicina a partir do estudo clínico e sopesado os efeitos colaterais, indicar o medicamento e o tratamento mais adequado para o seu paciente.

Não cabe à classe política e aos leigos em medicina a reencarnação da deusa grega da cura. Tal atitude pode levar a graves consequências sociais, principalmente em momento difícil como o que estamos passando. Soluções fáceis e mágicas para problemas complexos nunca funcionaram.

Cloroquina não pode ser a panaceia do presente. O fato de ter sido eficaz para um ou para um grupo de pacientes não nos permite generalizar a sua eficácia; isso é atribuição a ser comprovada através das pesquisas científicas. Na medicina, como ciência, não se ministra remédio para todos os males.

Não nos cabe também como leigos, politizar essa discussão cansativa, rasa e estéril; puramente ideológica e partidária. Opiniões teóricas isoladas de médicos, por mais renomados que possam ser, mas contrárias aos protocolos sanitários e as diretivas da OMS (Organização Mundial da Saúde), não merecem a mínima credibilidade. Além de oportunistas, carecem de comprovação fática. Portanto, imprestável para justificar qualquer medida de saúde pública.

A Constituição Federal atribuiu à classe política a importantíssima competência da gestão do sistema de saúde, que através de políticas públicas e sociais, deve garantir os recursos financeiros para a adequada funcionalidade do sistema. E pelo direito ao livre exercício da profissão, aos médicos a prática da medicina.

A experiência tem-nos mostrado até o momento, que muito mais eficiente que a cloroquina e a hidroxicloroquina, são as recomendações da OMS e das autoridades sanitárias de cada país.

Portanto, isole-se e se acautele para não ser contaminado, pois em tempo de pandemia, é mais seguro não confiar em panaceia.

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