As doenças cardiovasculares (DCVs) são a principal causa de morte no mundo, ceifando cerca de 18 milhões de vidas por ano. Apesar dos avanços na medicina, o número de óbitos permanece alarmante. E diante dessa realidade, uma verdade precisa ser dita com mais força: a alimentação é o fator mais poderoso — e muitas vezes, negligenciado — na prevenção das DCVs.
É comum que a sociedade valorize medicamentos, exames sofisticados e intervenções cirúrgicas como soluções para problemas cardíacos. Mas o que poucos reconhecem é que a prevenção começa no prato. A ciência já demonstrou que uma dieta equilibrada, rica em fibras, gorduras saudáveis e nutrientes cardioprotetores, pode reduzir drasticamente o risco de infartos, AVCs e outras complicações cardíacas.
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia e da American Heart Association são claras: devemos evitar alimentos ricos em gordura saturada e trans, como carnes gordurosas, embutidos, frituras e ultraprocessados. Em contrapartida, devemos priorizar frutas, verduras, grãos integrais, peixes, sementes e oleaginosas — alimentos que nutrem o coração e protegem os vasos sanguíneos.
E o ovo? Não é o vilão que muitos imaginam. Apesar de conter colesterol, estudos recentes mostram que o consumo moderado de ovos não está associado ao aumento do risco cardiovascular em indivíduos saudáveis. Pelo contrário: o ovo é uma excelente fonte de proteínas de alta qualidade, vitaminas do complexo B, colina e antioxidantes como a luteína. Quando inserido em uma dieta equilibrada e planejada, pode ser um aliado da saúde — inclusive do coração.
Além disso, padrões alimentares como a dieta DASH têm se mostrado eficazes no controle da pressão arterial, colesterol e peso corporal — fatores diretamente ligados à saúde cardiovascular. E não se trata apenas de evitar doenças: trata-se de promover qualidade de vida, energia, bem-estar e longevidade.
Intervenções alimentares individualizadas são essenciais. Cada pessoa possui necessidades nutricionais específicas, influenciadas por fatores genéticos, estilo de vida, condições clínicas e até mesmo aspectos culturais. Por isso, o acompanhamento com nutricionistas e profissionais de saúde é fundamental para traçar estratégias personalizadas que realmente funcionem — e que sejam sustentáveis em longo prazo.
O controle do peso corporal e a moderação no consumo de sal, açúcares refinados e gorduras saturadas são pilares da prevenção. O excesso de sal está diretamente ligado à hipertensão, enquanto o consumo elevado de açúcares e gorduras saturadas contribui para o aumento do colesterol, obesidade e resistência à insulina — todos fatores de risco para DCVs.
É claro que outros hábitos saudáveis também são importantes — como evitar o tabagismo, praticar atividade física e controlar o consumo de álcool. Mas a alimentação é o alicerce. Sem ela, qualquer outra medida será apenas paliativa.
Portanto, é urgente que governos, profissionais de saúde e a sociedade como um todo reconheçam a alimentação como estratégia central na prevenção das DCVs. Investir em educação alimentar, garantir acesso a alimentos saudáveis e combater a cultura do ultraprocessado são ações que salvam vidas. Prevenir é mais barato, mais eficaz e mais humano. E essa prevenção começa em casa, nas escolhas alimentares que fazemos dia após dia.