A problemática questão racial nos EUA

OPINIÃO - José Roberto Vieira

Data 28/06/2020
Horário 07:00

A questão racial americana é para muitos pensadores um barril de pólvora, outros dizem ser um vulcão que nunca adormece. Pois, o racismo sempre foi explícito e por mais de séculos, a segregação foi uma política de estado. Entretanto, os negros americanos sempre lutaram por seus direitos.

Com a vitória sobre a Inglaterra na guerra da independência, se deu a formação do Estado Americano e a elaboração da Constituição de 1787, cujo preâmbulo se inicia com a expressão “We the People of the United States”, nós, povo dos Estados Unidos.

Em 1857, a Suprema Corte negou um recurso do ex-escravo Dred Scott contra o Sr. John F. A. Sanford, que pleiteou continuar livre. Decidiu a Corte que os negros não se incluíam na definição: “We the People of the United States”. E como coisa, Dred Scott voltaria a ser propriedade de Sandford.

No caso Plessy vs. Ferguson, 1896, o negro Homer Plessy comprou uma passagem na primeira classe, mas foi retirado de seu assento pela polícia e preso. O caso foi parar na Suprema Corte que decidiu: a distinção de acomodações para negros nos transportes ferroviários era constitucional; adotou-se a tese dos “iguais, mas separados” - “equal but separate”.

Somente em 1954, caso Brown vs. Board of Education, que a Suprema Corte em mutação constitucional, entendeu ser ilegal as divisões raciais. E a menina negra Linda Brown pôde estudar em uma escola próxima de sua residência.

Em 1955, Rosa Parks se recusou a ceder seu lugar no ônibus a um homem branco e foi presa. Fato que deu origem ao movimento denominado “boicote aos ônibus de Montgomery”. Um dos advogados de Rosa Parks foi Martin Luther King, cujo discurso, anos depois, “I Have a Dream” é considerado um dos mais importantes da História do EUA, e um marco na História da humanidade na luta contra o apartheid.

Os anos seguintes foram de intensa luta pelos direitos civis dos negros norte-americanos. Em 1965, Malcon-X é assassinado e, em 1968, Martin Luther King.

Atletas negros começaram a se engajar e passaram a ser os porta-vozes da luta anti-racismo. Muhammad Ali se negou a ir para a Guerra do Vietnã devido às questões raciais.

Em 1968, na Olimpíada do México, os atletas Tommie Smith e John Carlos, vencedores dos 200 metros rasos, fizeram a saudação “black power” no pódio e foram banidos dos jogos pelo Comitê Olímpico Internacional, devido à pressão política de Tio Sam.

Em 2016, Colin Kaepernick jogador de futebol americano passou a se ajoelhar durante o hino nacional, em represália a forma violenta com que age a polícia contra os negros. Outros atletas seguiram Kaepernick no protesto. Incomodado, Donald Trump escreveu no Twitter: “tirem esses filhos da p* do campo”.

A declaração de Trump acirrou ainda mais os ânimos. Ao vivo o jornalista esportivo da ESPN, Stephan A. Smith, declarou: “Nenhum branco tem direito de dizer a um negro quando ele deve protestar (…) Protestos são feitos para incomodar mesmo”.

Por pressão de Trump, Kaepernick foi dispensado do San Francisco 49ers e está há mais de três anos sem clube.

O assassinato de George Floyd é apenas mais um capítulo triste e infelizmente não será o último. Pois, expressa ou implicitamente para parte da sociedade norte-americana, entre esses o presidente Donald Trump, os negros não se incluem na expressão: “nós, povo dos Estados Unidos”; portanto, estariam sujeitos a todo tipo de violência por parte – de uma parte da polícia.

 

 

 

 

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