A poeira da Síria grudava nas roupas de Melem Isaac enquanto ele se afastava, levando consigo o peso da saudade e a esperança de um futuro. Deixava para trás Da. Rosa, sua esposa, e o pequeno Isaac Melem. Um laço invisível que o puxaria de volta um dia. Levava consigo sua mãe. Para os árabes, cuidar da mãe é considerado um dever sagrado, com base nos princípios religiosos e culturais. "OMMI" em árabe quer dizer "Minha Mãe". A perseguição religiosa do Império Otomano e a busca de melhores oportunidades para sua família motivaram Melem Isaac a escolher o Brasil. Terra distante de promessas sussurradas o aguardava com a aridez de um novo começo.
Oito anos se esvaíram em trabalho árduo, em cada negócio fechado, em cada sorriso trocado com os novos conterrâneos. Aquele imigrante, vindo com a alma cheia de incertezas, transformou-se em um comerciante próspero, fincando raízes em solo paulista. A prosperidade, porém, tinha um nome e um rosto: Da. Rosa e o menino Isaac, que agora ele poderia finalmente trazer para compartilhar sua nova vida.
E então, a família se completou. Aquele núcleo inicial floresceu em nove filhos: Isaac Melem, Ilem Isaac, Aziz Melem, Michel, Nasta, Sonia, Dibinha, Salma e Suraia, minha única tia viva. Os Isaac se tornaram mais do que uma família; tornaram-se pioneiros, desbravadores de uma pequena cidade no interior do Estado de São Paulo chamada Presidente Prudente, que ainda engatinhava. Nas ruas poeirentas, nos primeiros comércios, o sobrenome Isaac começou a ecoar, sinônimo de trabalho e união.
Melem Isaac, apesar do sucesso nos negócios, nunca perdeu a simplicidade de suas origens. Seu coração generoso se voltava para aqueles que precisavam, e a Santa Casa de Presidente Prudente sentiu o calor de sua doação despretensiosa. Anos depois, a notícia de seu falecimento chegou como uma brisa nostálgica, carregando consigo a dimensão de sua generosidade silenciosa.
Foi então que a história ganhou contornos ainda mais emocionantes. Aquele terreno onde tantas alegrias floresceram, palco de dribles e gols inesquecíveis do nosso amado Corintinha, o Parque São Jorge. O terreno desse campo dos sonhos tinha sido doado por Melem Isaac. A marca discreta de um imigrante sírio. Um legado silencioso, plantado com a mesma humildade com que viveu.
Eu, Persio Melem Isaac, neto que não tive o privilégio de conhecer meu avô, sinto sua inspiradora história de vida e a honra de carregar seu nome. Em cada lembrança contada, em cada fotografia amarelada, a história de Melem Isaac pulsa forte. A saga da família Isaac, iniciada com a coragem de um homem que cruzou oceanos em busca de novos sonhos, novas ilusões, continua viva em cada um de nós, seus descendentes, pioneiros de coração em Presidente Prudente. A sorte favorece o destemido.